quarta-feira, 6 de abril de 2016

Não há vencedores até agora na batalha do impeachment – Editorial / Valor Econômico

Governo e oposição, a velha e a nova, se movem sem bússola em meio à crise. O grau de previsibilidade da batalha do impeachment da presidente Dilma Rousseff é zero e tudo pode acontecer - até mesmo nova eleição presidencial. Marchas e contramarchas se dão sob o pano de fundo da maior dispersão partidária da história da Câmara e das investigações da Operação Lava-Jato. O resultado até agora parece ser a perda de condições de governabilidade, seja qual for o desfecho da disputa pelo poder, que se aproxima.

A grande investida do PMDB, o rompimento com o governo, não teve o impacto desejado por seus artífices. Deixar cargos sempre foi uma decisão dilacerante para os pemedebistas e a inusual ordem de marcha unida da direção partidária não foi cumprida. Seis ministros da legenda permanecem na Esplanada, um fiasco para a manobra do vice-presidente Michel Temer que só não é maior do que a oposição ao desembarque por Renan Calheiros, presidente do Senado. Vital para o encaminhamento do impeachment na Casa, que pode ou não sepultá-lo, Renan qualificou a debandada de "pouco inteligente". Ontem, ao comentar a inesperada saída provisória de Temer da presidência do partido, disse que Temer foi eleito por unanimidade pelo PMDB, "mas é muito importante que essa unanimidade se refaça a cada momento". Isto é, precisa de seu importante apoio.

O PMDB rebelde tenta agora conter o desgaste que Temer tem pela frente ao trabalhar às claras para ser o futuro presidente da República. A artilharia petista já o classificou de "golpista", algo esperado, mas há mais que isso. Foi só o pêndulo do impeachment se deslocar a favor do PMDB para que vantagens e desvantagens da ascensão de Temer passassem a ser analisadas com cuidado. Há a sensação difusa de perda de entusiasmo com uma opção que nunca foi empolgante. Nas pesquisas, a popularidade do vice-presidente é quase tão baixa quanto a de Dilma e um eventual governo seu não traz a expectativa de algo muito melhor do que o que se vê até agora. Talvez seja essa mesma expectativa que nutre a intenção de duas dezenas de deputados do PMDB de permanecer ao lado do Planalto.

Temer pode enfrentar os mesmos processos que Dilma, tanto no caso das pedaladas fiscais quanto no TSE. A decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do STF, de ordenar à Comissão da Câmara que avalie também o pedido de impeachment do vice-presidente, por mais intervencionista que seja, só realça uma condição que está dada pelos fatos.

No lado governista, as coisas não andam muito melhores, embora pareçam após a recalcitrância de membros do PMDB e de outros partidos da base governista em seguir o grito de rebeldia pemedebista. A defesa do Planalto é dar cargos a todos que tiverem votos a oferecer em troca. Por ser a única saída vislumbrada, tem um preço altíssimo para o país. Só o desespero explica cogitar a entrega da Caixa Econômica Federal e do Ministério da Saúde, o de maior verba, para o PP, o partido com maior número de integrantes alvejados pela Lava-Jato. Às voltas com um escândalo de corrupção que hoje pode lhe custar a permanência no poder, a presidente pode, com essa barganha, já estar contratando os escândalos do futuro.

Da mesma forma, ao intervir no projeto de renegociação da dívida dos Estados - feito para obter apoio dos governadores -, e excluir a exigência de contrapartidas às facilidades concedidas pela União, o PT apenas demonstra seu desprezo pelo equilíbrio fiscal e pela parcimônia com o uso do dinheiro público. Descaracterizado ideologicamente, o partido quer apenas manter-se no poder, a qualquer custo.

Até agora, o Planalto não tem certeza de que obteve apoio suficiente para barrar o impeachment - a oposição tampouco. Parece manobra de alto risco político anunciar a reforma ministerial barganhada só após a votação sobre o impeachment na Câmara. O troca-troca se baseia, e o termo não é muito próprio, na confiança, e a presidente Dilma, pouco afeita a esse jogo, provoca insegurança quanto ao cumprimento das promessas. E vice-versa: partidos fisiológicos não têm a rigor compromissos e seguem vantagens pelo faro.

A angustiante paralisia do país diante desse espetáculo pouco edificante, e a falta de boas soluções que indica, alimenta a ideia de nova eleição - que poderá acontecer pela renúncia ou impedimento de Dilma e Temer.

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