Os esperados primeiros sinais de recuperação da economia parecem estar vindo da indústria. A possibilidade surgiu com a divulgação, na semana passada, que o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre teve um recuo inferior ao esperado, de 0,3% em relação ao quarto trimestre de 2015. O resultado foi em parte atribuído às exportações, que avançaram 6,5%, baseadas principalmente em produtos industriais; e, em parte, ao desempenho do PIB da indústria, que surpreendeu ao mostrar retração de 1,2%, praticamente a metade da estimada pelos analistas, com o segmento de transformação com queda de 0,3%.
Alguns dias depois, os analistas foram novamente surpreendidos pelo aumento de 0,1% da produção industrial de março para abril, confirmando as suspeitas levantadas pelos dados do PIB. Havia a expectativa de que a produção industrial poderia encolher, depois de ter avançado 1,4% em março. Mas o resultado foi melhor do que o esperado, garantido pela atividade extrativa, que voltou a contribuir positivamente ao expandir-se 1,3%, e pela indústria da transformação, que cresceu 0,2% puxada pelas exportações, uma vez que a demanda doméstica continua deprimida. Desde agosto de 2014 a indústria não registrava crescimento por dois meses consecutivos. Dos quatro primeiros meses do ano, três foram positivos e a exceção foi fevereiro, com recuo de 2,9%.
A reação da indústria não é homogênea. De março para abril, 11 dos 24 ramos de atividade pesquisados pelo IBGE mostraram aumento de produção, com destaque para os produtos alimentícios (4,6%); coque, derivados do petróleo e biocombustíveis (4%); celulose, papel e produtos de papel (2,7%); e máquinas e equipamentos (2%). Na análise por categorias econômicas, o setor de bens de capital surpreendeu porque, apesar do tombo do investimento em capital fixo, teve em abril o quarto aumento consecutivo, de 1,2%.
Nas avaliações de períodos mais longos os resultados não são tão animadores. Em relação ao primeiro trimestre de 2015, o PIB industrial encolheu 7,3%, com retração de 10,5% no segmento de transformação, de 9,6% no setor extrativo e de 6,2% na construção. A única influência positiva veio da produção e distribuição de eletricidade, que subiu 4,2%. Nos quatro trimestres encerrados em março, o tombo da indústria no PIB chegou a 6,9%, contração mais forte que a observada no fim de 2015, de 6,2%. A produção industrial recuou 7,2% em abril ante o mesmo mês de 2015, a 26ª queda consecutiva; e, na comparação entre quadrimestres, a queda foi de 10,5%. No caso dos dados das montadoras monitorados pela Anfavea, cujo levantamento já cobre maio, a produção acusa redução de 18% em relação ao mesmo mês de 2015 e queda de 24,3% na comparação dos cinco primeiros meses de 2015 com igual período deste ano e o menor volume em 12 anos.
No entanto, os dados mais recentes disponíveis permitem a constatação de que a tendência de queda se estabilizou. Além da produção, fundamentam essa conclusão dados de confiança dos empresários e de estoques. O Índice de Confiança da Indústria (ICI) alcançou 79,2 pontos em maio, de acordo com a sondagem do setor feita pela Fundação Getulio Vargas, o maior patamar desde março de 2015, como resultado da melhor avaliação das expectativas. Já o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) recuou no período, ao passar de 74,3% para 73,8% na série dessazonalizada.
Daí para que a produção volte a crescer "são outros quinhentos", disse o consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida (Valor 2/6), acrescentando com otimismo que "parar de cair é o primeiro sinal de que vai andar". Para que isso ocorra é importante que a taxa de câmbio permaneça em nível mais competitivo já que o aumento das exportações explica em parte a recuperação da indústria. Dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior mostram que a quantidade exportada pela indústria de transformação cresceu 14,7% de janeiro a abril em comparação com igual período de 2015 ("O Estado de S. Paulo, 6 de junho). O câmbio também estimula a substituição de produtos importados, apesar da retração do mercado interno. Uma reação mais sustentável depende, porém, de outros fatores como o início do esperado ciclo de redução dos juros, do progresso do plano de ajuste fiscal e da colocação em prática do programa de concessões.
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