Para consertar a economia brasileira e retomar o crescimento seguro é preciso reconstruir com urgência o tripé formado por responsabilidade fiscal, controle da inflação e câmbio flutuante, disse ontem o economista Ilan Goldfajn, indicado para a presidência do Banco Central (BC). Essa foi sua principal mensagem durante a sabatina regulamentar na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. O Brasil ascendeu econômica e socialmente enquanto esses princípios foram seguidos, lembrou o economista, sem gastar tempo explicando como o tripé foi desmontado pela administração petista. Nem precisaria: ao indicar como a harmonia das três políticas cria segurança, anima os investidores e abre espaço para a prosperidade, deixou clara a oposição entre o caminho da sensatez, há muito abandonado no País, e a trajetória para o atoleiro onde foi lançado o Brasil.
Durante mais de quatro horas Ilan Goldfajn expôs com simplicidade e clareza suas ideias sobre o papel do BC e respondeu da mesma forma às perguntas dos senadores. Reafirmou, desde o discurso inicial, seu entendimento sobre a missão da autoridade monetária: cuidar da estabilidade da moeda e ao mesmo tempo zelar pela solidez e pelo bom funcionamento do sistema financeiro. Esses dois itens compõem o mandato definido em lei para o BC.
Como era fácil prever, houve pergunta sobre uma possível expansão do mandato, com inclusão de um objetivo de pleno-emprego, como ocorre nos Estados Unidos. Goldfajn rejeitou a ideia com uma resposta singela: ao cuidar da estabilidade da moeda, o BC proporciona uma condição muito importante para o crescimento econômico e, portanto, para a geração de oportunidades de trabalho. Como objetivo de longo prazo, o emprego depende de fatores estruturais, como investimento, educação e inovação. Isso é verdade, mas ele poderia ter ido além, se quisesse polemizar: nos Estados Unidos, a política monetária é orientada para compatibilizar o pleno-emprego com níveis muito baixos de inflação.
Ao contrário da fantasia sustentada com frequência por políticos e até por alguns economistas brasileiros, inflação baixa e crescimento são objetivos compatíveis e até complementares, como observou, de modo menos provocativo, Ilan Goldfajn. Quanto aos juros, pode-se baixá-los, mas é preciso levar em conta, observou, os fatores determinantes do custo final do crédito. É preciso incluir na discussão formas de reduzir o spread bancário, admitiu o economista, mas há obviamente outros fatores, como a elevada dívida pública e as condições de sua rolagem.
Goldfajn insistiu na importância da boa gestão das contas públicas como fator de estabilização dos preços. A atual administração do BC tem batido no mesmo ponto: quanto melhor a política fiscal, menor o peso da tarefa imposta à política monetária e maior o espaço para corte de juros. Ele aplaudiu a ideia, apresentada pelo governo interino, de um teto para o gasto público e realçou a importância de um programa de reformas.
Sem criticar explicitamente a gestão cambial dos últimos anos, Goldfajn acentuou a importância do retorno ao regime de flutuação, valorizando a política monetária, em vez do câmbio, como “âncora fundamental” dos preços.
Alguns senadores ligados ao governo petista contestaram a nomeação de um economista proveniente de um banco privado. Chegaram a defender uma quarentena antes da posse na presidência do BC, uma evidente bobagem. Quarentena é aplicável quando se deixa um cargo público. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) anunciou o propósito de pedir ao Judiciário a anulação da sabatina, porque a votação, por meio eletrônico, foi iniciada durante a arguição. Mas esse procedimento foi aprovado pela maioria e, além disso, havia precedentes, como admitiu a presidente da comissão, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Mais uma peculiaridade brasileira: jogadinhas de assembleia de centro acadêmico são incomuns, em outros países, em sabatinas para chefia de um BC.
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