quarta-feira, 8 de junho de 2016

Líderes do PSDB dizem que não há fatos que caracterizam pedidos de prisão

• Cunha Lima pede calma porque ‘o santo é de barro’; Aloysio Nunes reclama de vazamento

Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA — O líder do governo interino de Michel Temer, senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), disse que não havia fatos nas gravações feitas por Sérgio Machado que caracterizam obstrução de Justiça. O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), fez discuro na mesma linha, afirmando que não há provas de atuação indevida e sim opiniões e ainda cobrando explicações oficiais do procurador da República, Rodrigo Janot, sobre os pedidos.

Na prática, os tucanos estão saindo em defesa do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), do senador Romero Jucá (RR) e do ex-presidente José Sarney (AP) de forma mais contundente do que o próprio PMDB, partido deles.


— Não vi naquelas gravações divulgadas (que envolvem Renan, Jucá e Sarney) sequer tentativas, atos preparatórios. Nâo posso aceitar a ideia de vazamentos por pílulas — disse Aloysio Nunes Ferreira, que foi ministro da Justiça do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Na mesma linha, o líder tucano Cássio Cunha Lima (PB) disse que há o risco de se transformar o país em um “estado policialesco” e que é preciso que o Supremo Tribunal Federal analise com "muita cautela" os pedidos. Para Cunha Lima, os parlamentares não podem ser penalizados por opiniões e que, na sua visão, não há, nas gravações, caracterização de obstrução de Justiça por parte dos parlamentares.

— O Senado precisa ter esses esclarecimentos. O pedido se fundamenta única e exclusivamente nas gravações? Se for a resposta positiva, não há requisitos que possam justificar um pedido de prisão, porque não se vê ali qualquer tentativa objetiva de obstrução da Justiça. Não podemos entender que opinião seja crime. Porque criminalizar a opinião de quem quer que seja poderemos estar enveredando para um Estado policialesco. E caberá ao Supremo examinar com muita cautela esse pedido — disse Cunha Lima, que disse que é preciso ir com calma porque “o santo é de barro e o país não aguenta”

— Existe um clamor público que termina pressionando as instituições, mas nós não podemos, em nome desse clamor público, transformar o país em um estado policialesco, onde até mesmo a emissão de uma opinião em uma conversa privada possa justificar um pedido de prisão. É preciso ir com calma, devagar com o andor, porque o santo é de barro, senão esse país não aguenta

O tucano chegou a sugerir que o sigilo seja quebrado se houver vazamentos. Ele disse ainda que, no caso do ex-senador Delcídio Amaral, as conversas mostraram fatos concretos de tentar evitar as investigações. Ele disse que não se pode usar "dois pesos e duas medidas", lembrando ainda que não considera que havia fatos para a prisão da presidente afastada Dilma Rousseff, do ex-presidente Lula ou do ex-ministro Aloizio Mercadante, que também apareceram em gravações.

O líder do PSDB ainda cobrou de Janot as razões dos pedidos, lembrando que se trata do presidente do Senado, de um senador e de um ex-senador e ex-presidente da República.

— O Ministério Público tem tido respeito e nosso apoio, como todo o conjunto da Operação Lava-Jato. Mas, é preciso que o Senado saiba as razões plenas, de forma clama e completa, porque na República não pode haver segredos, do porquê do pedido de prisão. É algo extremamente grave, que exigirá de nós firmeza, temperança, clareza. Não se pode criar no Brasil um Estado policialesco, nem tampouco pedir prisão por opiniões de quem quer que seja. Não vamos apagar o incêndio com gasolina. O que não pode é sigilo pela metade — disse Cunha Lima, também criticando vazamentos.

Pouco antes, a senadora Ana Amélia (PP-RS) também pediu explicações sobre as prisões.

— É um dia muito tenso para nós e de muita perplexidade para nós — disse Ana Amélia.

— É preciso pedir que haja explicação à essa instituição — acrescentou o senador Waldemir Moka (PMDB-MS).

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