Por Andrea Jubé, Raphael Di Cunto, Thiago Resende e Fernando Exman – Valor Econômico
BRASÍLIA - Sem alarde, o presidente Michel Temer já começou a costurar a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara, porque vê como única forma de manter a base aliada unida, considerando o antigo Centrão e a antiga oposição (PSDB, DEM, PSB e PPS). O Planalto receia que uma eventual candidatura do PSDB antecipe o distanciamento dos tucanos da base aliada.
Aliados de Temer apontam como inevitável o paulatino afastamento do PSDB da base, diante do projeto do partido de voltar ao Planalto em 2018. O líder do PSDB, Antonio Imbassahy, é pré-candidato à presidência da Câmara.
A deputados mais próximos, Imbassahy demonstrou preocupação com a articulação de Maia para tentar se reeleger.
Oficialmente, o Palácio do Planalto diz que o assunto não está em pauta e que Temer não vai interferir na eleição do dirigente de outro Poder, no caso, a Câmara dos Deputados. Mas integrantes do governo estão confiantes na reeleição de Maia.
Temer já recebeu em audiência, no Planalto, outro postulante ao cargo - o líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO) - a quem garantiu que não vai se intrometer na disputa.
Jovair e o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), são os principais pré-candidatos do Centrão - grupo construído pelo ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso preventivamente na Operação Lava-Jato. Os dois tentam manter as siglas unidas. A ideia é que o Centrão lance apenas um candidato, evitando a pulverização de votos, como ocorreu na eleição vencida por Maia.
O grupo, no entanto, já reage à possibilidade de Maia tentar se manter no cargo. "Isso não é possível. Teria que mudar a Constituição. Ele quer fazer um atalho. O nome disso é casuísmo. Não cabe nos dias atuais", declarou Jovair.
Maia tentaria se reeleger por meio de uma consulta à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), argumentando que cumpre um mandato "tampão", pois assumiu após Cunha renunciar ao cargo. Assim, o presidente da Câmara não se enquadraria na regra constitucional que veda a recondução.
No entanto, ainda não há oficialmente um consulta à CCJ. A Secretaria-Geral da Mesa, órgão de assessoria legislativa da Câmara, evita comentar o assunto. Alega que ainda não estudou se Maia poderia se reeleger e se manifestará apenas quando houver "um caso concreto". Os principais integrantes do órgão são indicados pelo presidente da Casa, no caso, Maia.
Em julho, o deputado do DEM venceu Rosso no segundo turno das eleições à presidência da Câmara com apoio da antiga oposição e também dos partidos contrários ao governo Temer, como PT. À época, o Planalto também adotou o discurso de que ficaria neutro à disputa na Casa.
Na prática, contudo, Temer costurou, pessoalmente, o apoio à candidatura de Maia. Na véspera da eleição, em julho, Temer foi ao aniversário do ministro da Educação, Mendonça Filho, do DEM. Lá, manteve conversas reservadas com o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN), e com o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), em que selou o apoio.
No segundo turno, o ministro dos Transportes, Maurício Quintella Lessa, ex-líder do PR, ouviu de um interlocutor de Temer que a bancada deveria votar em Rodrigo Maia. O partido lançou o deputado Giacobo (PR-PR), mas perdeu já no primeiro turno. Os votos do PR foram decisivos para a derrota de Rosso.
Agora, o líder do PSD quer novamente concorrer à presidência da Câmara. Rosso enviou a deputados um e-mail apresentando suas propostas de campanha, se antecipando a um eventual acordo entre as siglas do Centrão.
Principal adversário dele no grupo, Jovair afirma que Rosso tem legitimidade de tentar concorrer à vaga. Mas o líder do PTB tentará, até o fim de novembro, um consenso no Centrão. Há inclusive deputados do PR que querem comandar a Casa.
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