Se o governo conta com a indústria para movimentar a economia, criar empregos e alimentar o Tesouro com impostos, vai precisar de muita paciência. A produção industrial bateu no fundo do poço, dizem os mais otimistas, mas o caminho da recuperação ainda é muito longo e incerto. Em setembro o setor produziu 0,5% mais que em agosto, em volume, mas só um crescimento bem maior compensaria a retração acumulada nos dois meses anteriores – de 0,1% em julho e 3,5% em agosto. Com esse resultado, dificilmente o balanço econômico do terceiro trimestre, com divulgação prevista para o fim de novembro, será fechado em azul.
Os números do comércio e do varejo continuaram negativos em setembro, combinando muito bem com o desemprego de 11,8% – 12 milhões de pessoas – apontado no último relatório trimestral publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os otimistas podem ver sinais promissores em dois segmentos industriais. A pesquisa aponta aumento mensal de 1,2% na produção de bens intermediários e de 1,9% na fabricação de duráveis, puxada, neste caso, pelo setor de veículos automotores, carrocerias e reboques. Mas parece difícil conciliar este último detalhe com as estatísticas adiantadas pela associação nacional das montadoras, a Anfavea.
De acordo com esses números, a produção de veículos de todos os portes diminuiu de 177,73 mil em agosto para 170,81 mil em setembro e a exportação recuou de 40,19 mil para 38,78 mil. Também houve recuo na fabricação de máquinas agrícolas e rodoviárias.
Mesmo sem levar em conta a aparente disparidade entre os dados do IBGE e os da Anfavea, no caso de veículos e tratores, ainda é preciso levar em conta as dificuldades de crédito, a perda de renda e a insegurança dos consumidores. Nenhum desses itens permite pensar numa efetiva recuperação. Mais fácil é pensar numa recomposição de estoques e numa reação depois de grandes perdas durante o ano, como sugerido no relatório.
Se a indústria tiver de fato chegado ao fundo do poço, o percurso de volta ao nível de produção do ano passado, muito deprimido, já será muito longo. Em setembro, a produção da indústria geral foi 4,8% menor que a de um ano antes. De janeiro a setembro, ficou 7,8% abaixo do total registrado nos mesmos nove meses de 2015. Em 12 meses a queda chegou a 8,8%. Quando se considera um prazo mais longo, o cenário fica muito mais feio.
A produção industrial diminuiu 3% em todo o ano de 2014 e encolheu mais 8,3% em 2015. Se a evolução no trimestre final deste ano for mais favorável e a queda em 2016 ficar em apenas 6%, segundo previsão do mercado, será necessário um crescimento de 19,60% no próximo ano para se voltar ao nível de produção de 2013. Se essa recuperação quase inimaginável ocorrer, o setor ainda estará como se tivesse mantido crescimento zero a partir de 2014. E esse desempenho ainda teria sido muito melhor que o acumulado de fato.
As perspectivas, no entanto, são imensamente mais modestas, de acordo com as projeções coletadas no mercado pelo Banco Central (BC), em sua pesquisa Focus. Na última sondagem de outubro, as medianas das projeções apontaram retração industrial de 6% neste ano e crescimento de 1,11% em 2017, uma variação quase insignificante, depois de três anos de grandes quedas.
Não há como estranhar, nesse quadro, o desempenho ainda muito ruim do segmento produtor de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos. Com cerca de um terço de capacidade ociosa e diante de uma demanda muito fraca, os empresários deverão levar ainda um bom tempo para voltar a investir no potencial produtivo. Em setembro, a fabricação de bens de capital foi 5,1% menor que em agosto e 7,2% inferior à de um ano antes. No ano, o volume produzido foi 15% menor que o de janeiro a setembro de 2015. A queda foi de 19,8% em 12 meses.
Com tanta ociosidade, a indústria poderá aumentar a produção, na fase inicial, sem maiores custos. Caberá ao governo, com seus projetos, dar o primeiro impulso à reativação dos negócios.
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