Cada número ruim é um banho de água fria em quem está procurando nos indicadores pequenos sinais de que a economia esteja se recuperando. Ela está melhor, mas ainda sairão muitos índices negativos. Alguns mostram o passado, como o dado das vendas do varejo, divulgado ontem. Outros indicam os solavancos deste retorno difícil que estamos vivendo.
Esta semana ainda sairão novos números ruins, como o IBC-Br de dezembro, que sai amanhã e vai mostrar uma queda fechando o último trimestre, e a Pesquisa Mensal de Serviços, que sai hoje, com o dado do ano que também será negativo. Os índices confirmam o que todos já sabiam: que o ano passado foi muito ruim. As projeções são de que o PIB de 2016 será de -3,5%. O número final será divulgado pelo IBGE em março.
Olhando para a frente, é possível ver os sinais de melhora. O ministro Henrique Meirelles acha que o PIB do primeiro trimestre será um pequeno positivo de 0,3%. Havia dúvida sobre se seria positivo mesmo ou se ficaria em torno de zero, mas os dados da agricultura pesaram a favor. O agronegócio está tendo um excelente começo de ano com uma safra que o IBGE já calcula como sendo 20% maior do que a de 2016. Assim, depois de sete trimestres encolhendo em relação ao período anterior e dez trimestres em queda em comparação ao ano anterior, o PIB terá um número positivo.
A queda de 6,2% do varejo em 2016 foi a mais forte da série histórica. Com o tombo de 4,3% de 2015, a retração acumulada nesse biênio chega a 10,2%. O comércio voltou ao mesmo patamar de julho de 2010, ou seja, recuou cinco anos.
O varejo sentiu três impactos ao mesmo tempo: aumento do desemprego, elevação dos juros e chegada da inflação aos dois dígitos. A inflação recuou bastante, e os juros começaram a cair. Esses dois pontos devem trazer algum alívio para o comércio em 2017. O desemprego, contudo, permanecerá elevado. Com isso, o Departamento Econômico do Bradesco estima que haverá estabilidade nas vendas este ano. Ou seja, não cai, mas também não tem força para subir.
Um dado que chamou atenção nos números foi a retração de 3,1% no segmento de supermercados. Isso significa que a crise no orçamento das famílias foi tão forte que o brasileiro se viu obrigado a cortar em itens essenciais, como alimentos e bebidas. Artigos de uso pessoal e doméstico tiveram um tombo de 10,9%, enquanto móveis e eletrodomésticos recuaram 12,6%.
Há vários sinais, como indicadores antecedentes e índice de confiança, mostrando que o pior ficou para trás, mas a recuperação será lenta. Tudo o que se pode esperar do ano de 2017 é a economia parar de cair, ficar estabilizada e ter uma ligeira melhora no período final do ano. Não será uma reversão de tendência.
A crise política continua produzindo instabilidade, a crise fiscal tem paralisado os investimentos no setor público, a desestruturação financeira dos estados manterá o ambiente de turbulência social. Em um contexto assim, qualquer projeção é difícil de ser feita.
O que a conversa com os empresários mostra é que as notícias de aumento de vendas começam timidamente a aparecer em janeiro, mas não será uma recuperação forte nem linear. Será de altos e baixos. Muito da subida constante do consumo, por anos a fio, como mostra o gráfico abaixo, foi mantido de forma artificial com estímulo ao endividamento das famílias ou com incentivos e subsídios às empresas. O país terá que retomar o crescimento, porém sem anabolizantes.
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