Subjugados por corporações, políticos do estado e o governo Pezão esperam por uma salvação do Tesouro, sem contrapartidas, que não virá
Não havia alternativa, e o ministro do Supremo Luiz Fux, como ocorreu no desentendimento entre estados e União em torno da renegociação da dívida, concedeu mais 30 dias para as partes se entenderem no imbróglio sobre o resgate fiscal do Rio de Janeiro.
Na verdade, é um tempo para que, afinal, os políticos (Alerj) assumam sua responsabilidade e comecem a aprovar o pacote de austeridade, sem o qual o estado irá para o colapso terminal — já em andamento.
Há aberrações no que deseja o governo de Luiz Fernando Pezão, sob cerco de corporações poderosas: servidores públicos em geral, funcionários da Cedae em particular; juízes, promotores, policiais, para citar as mais visíveis. Desejar antecipar empréstimos, contra o que estabelece a Lei de Responsabilidade Fiscal — base do impeachment de um presidente não faz um ano —, sustentados numa liminar do Supremo, é no mínimo exótico. Tempos estranhos.
Mediador, Fux, como deve ser, busca uma saída negociada. Mas há limites. Entende-se por que os financiadores escalados para iniciar a operação de salvamento, Banco do Brasil e Caixa, estejam contra esta limiar solta no espaço. Temem, com fundadas razões, perder o dinheiro emprestado. Também por sensatez, têm a mesma posição o Ministério Público Federal e a Advocacia-Geral da União. Eles são responsáveis pela defesa do dinheiro do contribuinte, a vítima final caso o estado dê este provável cano nos bancos públicos.
A Fazenda teme, também com razão, que o governo Pezão use os R$ 3,5 bilhões dos empréstimos garantidos por ações da Cedae — crédito para colocar salários, aposentadorias e pensões em dia —, e nada mais faça. Apesar de ser um plano delirante — porque as contas do estado continuariam bastante deficitárias —, tudo é possível quando há um governador fraco e que começa a se ver envolvido nas revelações dos esquemas de propinas do antecessor e mentor Sérgio Cabral.
Prova de que políticos fluminenses estão cegos à realidade é o fato de que, mesmo anunciados, não houve praticamente cortes em cargos comissionados, parte ponderável deles preenchida por indicação política. A meta estabelecida, em 2015, era de uma redução de 30% nesses cargos. Revelou O GLOBO que, até o mês passado, haviam sido eliminados irrisórios 7%.
Esperam, portanto, de forma insensata, por uma salvação da União, sem contrapartida. Mesmo que deseje, o presidente Michel Temer não o fará, porque não haveria como o Tesouro, ainda deficitário, arcar com programas caridosos de resgate de Rio de Janeiro, Minas, Rio Grande do Sul e outros que aparecerão.
Os 30 dias concedidos pelo ministro Luiz Fux soam como uma prorrogação final para os políticos enfim caírem em si.
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