Por Malu Delgado | Valor Econômico / Eu &Fim de Semana
Com as figuras centrais dos partidos abatidas pela Lava-Jato, instaurou-se um momento de busca de potenciais candidatos
SÃO PAULO - "E aí, quem vocês vão lançar como candidato à Presidência da República?" A pergunta é feita sempre que João Dionisio Amoêdo, o presidente do Novo - partido que obteve registro na Justiça Eleitoral em 2015 -, conversa sobre política com amigos, conhecidos e entusiastas da sigla. Amoêdo costuma reagir com um desafio: "Me dê aí dois nomes". O inquiridor, então, geralmente se silencia.
Em um Brasil instável, conflagrado politicamente e com futuro incerto, a pergunta é coro generalizado que perturba os "velhos e novos" nos partidos, na política e no eleitorado. As respostas, exatamente pelo cenário tumultuado e pela agonia paulatina do atual sistema político-eleitoral, são escassas e imprecisas. A despeito de o assunto ser a tônica dos debates internos nas legendas e nos bastidores do Congresso, não há cédula eleitoral previsível seja em 2017 ou 2018, seja por disputa indireta ou direta.
Os partidos colhem o fel da promiscuidade do sistema que muitos deles perpetuaram e ajudaram a deteriorar. Novas lideranças dificilmente emergem no cenário nacional porque as cúpulas partidárias pouco permitem a oxigenação ou a visibilidade de nomes que não interessam a seus dirigentes. Com as figuras centrais dos partidos abatidas pela Lava-Jato, instaurou-se um momento de caça eleitoral pelo país. Nomes de políticos responsáveis por gestões municipais ou estaduais exitosas e bem avaliadas pela população despontam nas legendas, da esquerda à direita, como possibilidades para disputar cargos majoritários relevantes em 2018.
A inquietação sobre a condução do país se reflete com humor nas redes sociais, em que são comuns propostas para deixar o Brasil acéfalo e resolver os problemas "por enquete no Facebook ou num grupo de WhatsApp", "chamar o vizinho Mujica" (ex-presidente do Uruguai) ou "pedir que a Casa Branca envie um emissário" dos EUA para resolver o problema brasileiro. Memes sem fim sugerem que técnicos de clubes de futebol cheguem à Presidência, que jogadores famosos assumam a Vice, ou que um programa de "reality show" faça o papel das urnas, exercício que os cidadãos não demonstram entusiasmo a praticar.
Dois nomes
"João Doria e Luciano Huck. São dois nomes. Quer algum deles como candidato à Presidência pelo Novo?" Amoêdo é rápido na resposta, quando o assunto surge. "Não chegamos a convidar nenhum dos dois [para filiação]." Com Doria, explica, a primeira conversa ocorreu ainda em 2016, antes de ele vencer as prévias do PSDB para disputar a Prefeitura de São Paulo.
"Ele que teve interesse em conhecer. E eu estava com ele naquele primeiro estágio: divulgar o Novo, explicar." Sobre Huck, Amoêdo conta que com ele já teve duas conversas, sendo a mais recente há pouco mais de dois meses. Assegura que os dois se encontraram para "falar de Brasil". "O convite tem que ser numa etapa posterior."
Amoêdo afirma que o Partido Novo lançará um candidato à Presidência, até porque a conjuntura, diz, é extremamente favorável para que os brasileiros conheçam a proposta da legenda. "Não adianta só arrumar alguém conhecido, ir lá e oferecer a legenda para essa pessoa. A gente precisa constatar que essa pessoa esteja alinhada com os princípios do Novo, envolvida. E, em uma terceira etapa, ele sairia candidato. Com essas duas pessoas eu tive um primeiro contato. São duas pessoas conhecidas, formadoras de opinião", afirma.
Em um discurso inflamado no diretório estadual do PSDB, na noite de segunda-feira, Doria descartou a possibilidade de deixar o partido. Ainda que sem uma negativa enfática sobre a possibilidade de disputar a Presidência, mandou seu recado internamente de outra forma: "Não há a menor possibilidade de dividirem Geraldo e João. Zero, zero". Deixou claro, assim, que não entrará em conflito com seu padrinho e tutor, Alckmin, que se articula para ser o candidato em 2018. Com a fala cheia de metáforas, lembrou a lealdade de Mário Covas a Franco Montoro. Encarnou o espírito de "guerreiro" e, dizendo-se alguém de bom senso e equilibrado, observou que precipitar a hora da batalha pode condenar um exército inteiro à derrota. "Recebi vários convites para me candidatar por outras legendas. Eu disse não. Eu só tenho um partido, e só terei um partido na minha vida: o PSDB." De acordo com a assessoria do prefeito, o discurso deixa claríssima a posição política de Doria, suas aspirações e compromissos.
Por intermédio de sua assessoria, Huck informa que as reflexões que fez em seu post no Facebook, publicado em maio, respondem sobre as especulações em torno do seu nome. "Não, não sou candidato a presidente da República."
Requisitos presidenciais
O candidato à Presidência do Novo, explica Amoêdo, não precisará ter "histórico político". Mas precisará concordar com as teses do partido, em especial de redução do papel do Estado, do veto enfático ao aumento de carga tributária e da importância da livre concorrência. É desejável, ainda, que o nome em questão "tenha tido sucesso na vida", afirma. O terceiro requisito é "ser sério e ético". O quarto é "saber montar equipe". Por fim, o novo líder do Novo "precisa aceitar esse desafio", a exigência mais difícil, segundo Amoêdo, provavelmente porque o candidato precisará abandonar a vida e a carreira privadas para se dedicar a uma função pública.
A estratégia do Novo para 2018 era fortalecer as bancadas no Congresso. A meta é lançar candidatos a deputado e senador em 18 Estados. O partido, porém, está reavaliando as ambições com a crise. "Essa decisão foi antes da delação da Odebrecht. A cada dia que passa vai se criando um vácuo maior de poder, uma demanda maior por gente nova na política. Estamos repensando se teríamos condição de eventualmente ter candidatos em alguns Estados. Vão aparecendo oportunidades. Se estivermos estruturados, estaremos presentes."
O Novo deve lançar candidatos a governo em pelo menos cinco Estados: São Paulo, Rio, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, onde o partido já está mais organizado. O nome do ex-técnico de vôlei Bernardinho desponta para disputar o governo do Rio, por exemplo. Outra especulação nos bastidores é a filiação do cientista político e fundador da editora que lançou as revistas "República" e "Bravo!", Luiz Felipe D'Ávila, também criador do Centro de Liderança Pública (CLP), para disputar o governo paulista.
"Ele já fez palestras para gente. Temos proximidade e ele conhece bem o projeto [do Novo], mas não é alguém atuante no partido, de forma nenhuma. Mas é uma pessoa de que gostamos muito, pelo conhecimento político e pela seriedade", afirma Amoêdo. A renovação do Novo, enfatiza o presidente da sigla, não pode flertar com a demagogia e o populismo. "Aí seria o pior dos mundos."
Encarnando a tarefa de "criar líderes públicos que vão transformar o Brasil", D'Ávila, que dirige o CLP, assegura que o Brasil hoje "tem muita gente boa fazendo trabalho excepcional na gestão pública local, municipal e estadual, e que não aparece". Por meio de cursos de liderança, palestras e treinamentos, o CLP foi criado com objetivo de oferecer ferramentas práticas para que políticos se tornem gestores capacitados e possam resolver dilemas contemporâneos com ética e pragmatismo.
Segundo D'Ávila, mentor do projeto, infelizmente gestões locais não dão visibilidade nacional porque normalmente não interessam à mídia, diz o professor dos políticos. O diretor do CLP é defensor árduo das reformas estruturais no Brasil. Acha que é preciso aprovar com urgência as mudanças na Previdência, na legislação trabalhista e, em especial, a reforma política. O ideal seria o voto distrital, que, por ora, ele sabe que ainda é uma utopia. "Hoje, neste Congresso de 513 pessoas, você só tem 35 com votos próprios. O resto vive no cheque especial da coligação. Não tem votos próprios para se eleger. O sistema é perverso. Por isso precisamos mudar os incentivos do sistema para que essas lideranças tenham mais visibilidade."
A prisão de políticos corruptos, comemorada pela sociedade, não vai mudar o país, diz D'Ávila. "A questão fundamental do futuro do Brasil não é a escolha do próximo presidente, é se o Congresso vai aprovar as reformas política, previdenciária e trabalhista. Essas são as reformas que vão mudar o custo Brasil. O Brasil não vai mudar de rumo se você prender o Lula, destituir o Temer, se escolher o presidente mais brilhante para tocar esse resto de mandato. Nada disso muda o percurso do Brasil." Se a crise levar o Congresso a abandonar as reformas, diz ele, o Brasil correrá o sério risco de ver na cédula em 2018 "uma bolha de populistas". "Os vendedores de ilusões que terão mais chances. Seria um desastre absoluto para o Brasil."
Além do risco do populismo, o diretor-executivo da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), Marcos Vinícius de Campos, critica a tese de que um gestor resolverá o problema do país. "É crucial desmitificar essa ideia de que o problema do Brasil é de gestão e que com técnicos e bons gestores resolveremos também o problema do Parlamento. Isso é mentira. A natureza do quadro revela que precisamos é de líderes, e isso não se define exclusivamente pela capacitação técnica."
Criada em 2012 sob o comando do empresário Guilherme Leal, que já foi candidato a vice-presidente na chapa com Marina Silva em 2010, a Raps também aposta na formação suprapartidária de políticos "para contribuir para o fortalecimento e o aperfeiçoamento da democracia e das instituições republicanas", com foco na sustentabilidade. Políticos podem participar de um processo seletivo para se tornarem um "líder Raps". O líder do Raps precisa assumir uma série de compromissos com a transparência e a ética para ter auxílio em sua formação. Hoje, 208 líderes filiados a partidos - sendo 81 deles com mandatos - e outros 284 sem filiação estão cadastrados nessa rede. A maioria dos líderes Raps filiados são do Rede, do PSDB e do PSB.
Novos protagonistas
Antes de a delação premiada do empresário Joesley Batista minar a ambição presidencial do senador Aécio Neves (MG), obrigado a se retirar do Senado e da presidência nacional do PSDB, o partido já havia planejado uma propaganda partidária com ecos da "nova política", que foi ao ar em abril. Prefeitos, vereadores e deputados estaduais, normalmente longe dos holofotes da direção nacional do partido, foram transformados em protagonistas tucanos na TV. O PSDB filmou uma pesquisa qualitativa feita com grupos de opinião. Políticos tucanos, gestores conhecidos localmente, mas ainda sem nenhuma visibilidade nacional, entravam nas salas onde cidadãos comuns explicavam as razões para tamanha desilusão com a política. Somente um tempo depois eles se identificavam como políticos.
"Aquele programa ali não foi montado. Foi real. Era uma espécie de qualitativa e a gente entrava no meio da conversa. Há uma necessidade real de renovação. Não é uma renovação meramente cronológica", afirma a prefeita reeleita de Caruaru, Raquel Lyra, de 38 anos. A renovação que os brasileiros querem, segundo a prefeita, não é só de nomes: "É uma forma diferente de fazer. É trabalhar de um modo mais horizontal, mais junto da população. É tomar a decisão junto". Líderes políticos precisam ser capazes de tomar decisões, acrescenta ela, mas tais ações devem estar "alinhadas com a real necessidade das pessoas".
O PSDB bem que tentou dar espaço "ao novo", mas a tentação foi grande e os velhos caciques tucanos - o próprio Aécio, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, entre outros - finalizaram a propaganda que pretendia mostrar alguma novidade ao Brasil. De acordo com um político do partido, a intenção inicial era que nenhuma dessas figuras nacionais aparecessem na propaganda. Foi também nessa rodada de qualitativas que os políticos tucanos se surpreenderam com as citações positivas a João Doria, prefeito de São Paulo.
• Um candidato a la Macron parece ser o sonho dos tucanos: não apenas pela idade e pelo frescor, mas pelo caminho trilhado, segundo Aníbal
O argentino Guillermo Rafo, responsável pelo marketing de Aécio em 2014 e convidado a fazer a propaganda partidária de 2017, foi direto na análise: se o PSDB quiser vencer o pleito presidencial de 2018, deve considerar seriamente a possibilidade de ter Doria como candidato. De acordo com tucanos, Rafo deixou claro que, sob o ponto de vista do marketing, o prefeito de São Paulo é um personagem cheio de possibilidades. Muita gente no partido não gostou do que ouviu. "Deixa esse moço quieto por enquanto", confidenciou um parlamentar tucano.
"A crise política e a crise de valores são tão fortes, que é uma exigência essa renovação para que se volte a acreditar na política", afirmou Raquel Lyra, nome cotado no PSDB para disputar o governo de Pernambuco. Ela é filha do ex-governador João Lyra Neto e se filiou ao PSDB no ano da eleição.
Para o prefeito de Lins, Edgar de Souza, também de 38 anos, outro protagonista da propaganda tucana, a atual crise política deixa muitos abatidos e muitos incomodados dentro do PSDB. Os debates sobre anistia política que vêm à baila por causa da destruição da classe promovida pela Lava-Jato, por exemplo, são, na visão do prefeito, extremamente arriscados. De fato, pondera Souza, nem todo caixa 2 é propina. Mas caixa 2 é crime sério. "Ou o PSDB dá demonstrações de coerência ou correrá o risco de colher o mesmo que o PT."
Souza já foi do PT, já foi do PSol, mas é no PSDB que se sentiu acolhido e com espaço para dar prosseguimento ao seu caminho político. Homossexual, casado com o companheiro com quem vive há 13 anos, é visto com simpatia por Alckmin e pelo presidente do PSDB paulista, Pedro Tobias. Seu nome já desponta como viável para disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados, mas ele é direto: "Não vou. Eu me comprometi com a comunidade de Lins. Não me empurrem, que eu não vou". Para essa nova leva de políticos, a palavra empenhada com o eleitor é coisa séria.
"Dificilmente vamos ter um [Emmanuel] Macron [presidente francês]", admite o presidente do Instituto Teotônio Vilela (ITV), José Aníbal. O instituto tem, entre suas responsabilidades, divulgar a social-democracia e formular políticas públicas e "alternativas inovadoras que possam melhorar a qualidade de vida dos cidadãos".
Neste contexto, o instituto auxilia na formação de lideranças políticas do PSDB e procura dar especial atenção à juventude. Um candidato a la Macron parece ser o sonho dos tucanos: não apenas pela idade e pelo frescor, mas pelo caminho trilhado, segundo Aníbal. "Até agosto do ano passado, ele era ministro da Economia. Hoje é presidente da França. O que ele fez? Foi identificando os grandes desafios para desbloquear a França e sobre cada um desses desafios começou a propor soluções: terrorismo, emprego, educação", afirma José Aníbal.
Ainda sem um Macron para chamar de seu, o PSDB, pontua o presidente do ITV, "tem uma disponibilidade real de nomes". Aécio saiu do radar e não há hipótese de voltar em 2018, mas os nomes postos hoje para a Presidência são o de Alckmin e do senador Tasso Jereissati (CE). O cearense ganhou força ao aparecer como uma possibilidade de mandato tampão numa eleição indireta caso Temer seja cassado, renuncie ou sofra impeachment. O nome, porém, não foi bem digerido pelo Congresso.
A "nova safra" de políticos - os "cabeças pretas" - que os tucanos esperam colher não necessariamente é jovem. Em São Paulo, por exemplo, um dos nomes que mais se articula para disputar o governo é o do secretário da Saúde de Alckmin, o médico David Uip. "Alckmin tem um boi na sala, que é seu vice, Márcio França [do PSB, que conta com o apoio do governador para se lançar em 2018]. E também o efeito Doria", observa um tucano. Além de Uip, aparecem como possibilidades paulistas os nomes de Floriano Pesaro (secretário estadual de Desenvolvimento Social), Paulo Serra (prefeito de Santo André), Duarte Nogueira (prefeito de Ribeirão Preto), Orlando Morando (prefeito de São Bernardo) e Marcus Melo (prefeito de Mogi das Cruzes).
Fora da esfera paulista, um nome que desperta atenção dos cabeças brancas (políticos mais velhos) do PSDB é o do deputado estadual de Alagoas Rodrigo Cunha, filho de Ceci Cunha, deputada federal que foi brutalmente assassinada em 1998 a mando de seu suplente, Talvane Albuquerque. "Ele é excepcional", define o presidente do ITV. Rodrigo Cunha já é visto como uma possibilidade para disputar um cargo majoritário em 2018, não estando descartado o lançamento de seu nome ao governo estadual. Nelson Marquezan Júnior, eleito prefeito de Porto Alegre, também está no radar da cúpula tucana e é sempre citado.
"Há sim um espaço novo no PSDB. Mas o novo nem sempre é boa coisa, e há muita coisa velha fantasiada de nova", diagnostica o prefeito de Lins. Para Souza, é preciso criar uma legislação que obrigue os partidos a adotarem mecanismos de democratização interna. "Os partidos não representam os valores da sociedade brasileira. O que a gente precisa é de uma profunda reforma política, e de uma modificação profunda da forma de se fazer política no Brasil. Se tivermos Diretas Já, quem vai financiar a campanha nesse momento em que estamos? A gente vai ter de fato um momento novo?", indaga a tucana Raquel Lyra.
O velho novo
O dilema da urna é geral para todas as legendas, mas a aposta cega que o PT faz numa nova candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixa às claras as dificuldades do partido de encontrar um líder carismático e de dar espaço a novos quadros depois que seus principais dirigentes foram banidos da política. Sendo atualmente o candidato mais viável e forte da esquerda, o retorno de Lula ainda teria um sentido de preservação: o ex-presidente é réu em processos da Lava-Jato e há risco real de ser condenado em primeira e segunda instâncias, o que inviabilizaria sua candidatura. A manutenção de seu nome na cédula é visto como importante contraponto à ânsia de procuradores que querem vê-lo na prisão por supostas denúncias de corrupção.
A formação de um líder político, segundo Carlos Árabe, secretário nacional de formação política do PT, tem relação intrínseca com "o tempo histórico". "Seria uma ideia muito artificial achar que é o partido que produz [líderes]." Ele admite que a candidatura de Lula, num momento em que todos os partidos falam de renovação, é "paradoxal". Salienta, no entanto, que a questão geracional precisa ser vista com cautela. Nem sempre o jovem é o novo. "No Paraná, o ex-deputado Doutor Rosinha, de 70 anos, é o novo. Ideias humanistas e socialistas, ao entrar em cena, são elementos de renovação, mesmo que seus portadores sejam pessoas mais velhas."
Árabe enfatiza que a fundação do PT, que contou com a adesão de muitos jovens, tinha como contexto histórico a pós-ditadura, os movimentos de 68, a aura romântica da figura de Che Guevara. "Surgiu já uma nova geração que substitui aquela dos anos iniciais do PT, da década de 80? Eu tenho a impressão que não."
O PT deposita esperança nas frentes populares como algo que fomente o crescimento de um novo líder de esquerda. Por ora, os petistas admitem que a novidade é Guilherme Boulos, o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e criador da Frente Povo Sem Medo, sem vinculação partidária. Boulos não tem filiação e quase não há chance de se tornar um quadro do PT, mas pode sim aparecer como candidato em 2018. "Existe alguém que poderia substituir o Lula? Hoje, se fizermos essa consulta, eu não conheço quem ache que isso já existe. Embora tenham muitas figuras com um papel crescente, e te dei o exemplo do Boulos. Mas é uma situação um tanto diferente da fundação do PT", diz Árabe.
A interface maior do PT é com a Frente Brasil Popular, que integra gente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Movimento dos Sem Terra (MST), da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da Marcha Mundial de Mulheres. "O PT vê, aí, uma fonte muito importante [de nomes]. O PT demonstra simpatia e se engaja com essa frente. E trata com muito respeito e diálogo a Frente Povo sem Medo, cujo principal dirigente é o Boulos", afirma Árabe. Na Frente Brasil Popular, os nomes em alta são Vagner de Freitas (presidente da CUT), João Pedro Stédile (coordenador do MST), Carina Vitral (presidente da UNE) e Nalu Farias (Marcha Mundial das Mulheres). "Daí podem surgir coisas muito importantes."
Ainda que o nome de Ciro Gomes, pré-candidato pelo PDT, seja reconhecido e tratado com respeito pelo PT, as chances de uma composição com o cearense, por enquanto, dependerão de uma definição sobre a candidatura de Lula. Ciro já deixou claro que não disputa se Lula concorrer, por achar que essa estratégia divide a esquerda.
A novidade pela esquerda
Psicanalista, com formação em filosofia, egresso da classe média, o "jovem" Guilherme Boulos, de 34 anos, é o nome que mais oxigena a esquerda e que tem a melhor interlocução com os movimentos sociais. A facilidade com que se comunica com as massas e seu ativismo genuíno fazem com que muitos, na esquerda, vejam ali o brotar de "um novo Lula", ainda que com contextos históricos absolutamente distintos. Boulos é o sonho de consumo do PSol.
"Vamos ter candidato próprio para Presidência, não tenha dúvida disso. Quem é o nosso nome ainda estamos debatendo, porque isso envolve outras decisões. Teremos candidatura que vai dialogar com movimentos crescentes do Brasil", afirma o deputado estadual Marcelo Freixo (RJ), hoje a maior força político-eleitoral do PSol. O nome surgirá do próprio partido ou de movimentos sociais, afirma Freixo, deixando claro o namoro com Boulos. "Isso não foi batido ainda, Temos muita proximidade com o Boulos, tenho uma relação de amizade. Não temos debate ainda de nomes, mas de estratégia eleitoral do partido."
Freixo viaja pelo país para organizar candidaturas do partido para os cargos de deputado e senador. A prioridade do PSol, em 2018, será formar uma bancada de pelo menos dez deputados federais para superar a cláusula de barreira. Ele próprio deve se candidatar pelo Rio, deixando a disputa ao governo para o colega Chico Alencar. Luciana Genro, a candidata à Presidência em 2014, também tentará voltar à Câmara.
O deputado destaca a responsabilidade e a relevância política que o PSol adquiriu no Rio, após ele disputar a prefeitura no segundo turno com Marcelo Crivella (PRB). Sem tempo de TV e sem alianças, tornou-se competitivo. A viabilidade de sua candidatura, diz, reflete o poder de uma nova forma de se fazer política: "Você troca as velhas alianças de cúpula por uma maneira efetiva de ouvir as pessoas. Você se comunica de uma maneira diferente na campanha. Não depende da TV. É a mistura da rede com a rua".
A crença na comunicação em rede foi o que motivou a ex-senadora Marina Silva a criar um partido com o mesmo nome, o Rede Sustentabilidade, e também a se lançar à Presidência. Após uma disputa tumultuada em 2014, em que teve que disputar pelo PSB e saiu de candidata à vice para a cabeça de chapa com a morte trágica do governador Eduardo Campos, Marina deve voltar à disputa em 2018. Seu nome deixou de ser novidade, mas não é desconsiderado por nenhuma sigla, por ainda ter força eleitoral. Outros nomes do Rede também se fortalecem no Congresso, como o senador Randolfe Rodrigues (AP), Alessandro Molon (RJ) e o jovem deputado federal Aliel Machado, do Paraná.
Depois de um tempo de longa discrição, Marina assumiu a bandeira do "Fora Temer" e das eleições diretas. "Parece termos chegado ao momento do salve-se quem puder, no qual não há mais constrangimentos nem cuidados para manter as aparências. Como diria Quincas Borba, 'engana-se, senhor, trago essa máscara risonha, mas sou triste. Sou um arquiteto de ruínas'", escreveu num artigo recente no site do Rede, em que critica as últimas ações de Temer.
Novos ares pela direita
Se a esquerda vê a possibilidade de ascensão de novos nomes, a direita adota a mesma teoria. O DEM, praticamente dizimado eleitoralmente após anos de ascensão do PT, prepara-se para um período de revitalização eleitoral em 2018. O partido já estima a eleição de uma bancada de 40 a 50 deputados federais. Além disso, a projeção do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), anima o Democratas, apesar de o carioca também ter sido citado na Lava-Jato.
A possibilidade de Maia assumir a Presidência numa eleição indireta fez com que o DEM se desvinculasse de qualquer movimento público para tirar Temer do cargo. "O Rodrigo Maia está se revelando um grande articulador político. Com todas as dificuldades do momento, ele venceu pautas difíceis no Congresso", observa o presidente da Fundação Liberdade e Cidadania, do DEM, deputado José Carlos Aleluia (BA). Para ele, o DEM ainda não deve discutir 2018 e "não tem o menor cabimento se especular sobre a sucessão de Michel Temer".
A cautela não esconde o ânimo do parlamentar com as perspectivas eleitorais do DEM. "Será a melhor desde 2002", admite. O partido deve disputar o governo em cerca de dez Estados, com chances reais em cinco. Estará em chapas majoritárias provavelmente em 20 unidades da federação, diz Aleluia. "Estamos inclusive conversando sobre a vinda de outras lideranças para o DEM", diz ele, em tom de mistério.
Além de Maia, o nome mais promissor no DEM hoje é o do prefeito de Salvador, ACM Neto, reeleito em 2016 e com grande popularidade. ACM Neto é o nome do DEM para disputar o governo da Bahia, seguindo a trajetória do avô, Antonio Carlos Magalhães. Sobre suas ligações familiares, ele diz que seus dez anos como parlamentar e sua experiência de gestão em Salvador já comprovaram ao que veio, independentemente de sua tradição política.
"Eu não surgi do nada e de repente me tornei um nome do partido. Eu fiz um trabalho ao longo de dez anos no Congresso inteiramente comprometido com a linha partidária. Eu sabia, no momento em que assumi a Prefeitura de Salvador, que me tornaria a principal vitrine da gestão do Democratas pelo tamanho e pela importância da cidade."
A crise exige mudanças nos partidos, diz ACM Neto. "A maioria dos partidos no Brasil são cartórios. Você tem ali feudos controlados historicamente por lideranças que foram se perpetuando ao longo do tempo e não se preocuparam em estabelecer um processo interno de democracia e que, portanto, permitiria uma renovação mais ampla. Agora, em função de toda essa crise, vai ser inevitável que os partidos façam isso." ACM Neto diz que as "nuvens estão baixas e não dá para enxergar no horizonte". "Neste momento, se é extremamente perigoso especular sobre nomes para uma eleição indireta, também é extremamente perigoso especular sobre nomes para disputar uma eleição presidencial."
"Ninguém transforma ninguém em líder, embora a liderança, apesar de inata em alguns, seja algo que se possa adquirir com a observação, a reflexão, a vivência e a prática. Liderança parece ser fruto da experiência, do acúmulo de fracassos, correções e acertos. Nesse sentido, é um processo que implica formação, maturação. É algo que se prende através dos anos, da tentativa; na experiência sempre precária e reavaliada; na agonia do incerto e do efêmero", escreveu o cientista político Carlos Melo, do Insper, em seu artigo "Notas e Reflexões sobre Liderança Política", de 2012. Melo é hoje membro do Centro de Liderança e Inovação criado pelo Insper, fruto de um debate sobre a falta de líderes no país, tanto na esfera econômica quanto política. Enquanto os anacronismos do sistema político persistem e o Congresso resiste em mudar as regras de representatividade, outra constatação de Melo pode orientar os partidos na sua caçada eleitoral para 2018: "Ninguém ensina ninguém a ser líder".
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