Flávio Ferreira | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Os coordenadores da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba criticaram os ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que votaram pela impossibilidade do uso de provas do acordo de delação premiada da empreiteira Odebrecht no julgamento da chapa Dilma-Temer na sexta-feira (9).
Em seu perfil em uma rede social, o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima escreveu que o cientista político francês Olivier Dabène havia dito em entrevista que a sucessão de denúncias de corrupção no Brasil mostra o "cúmulo do cinismo" da classe política brasileira.
Após a citação, o procurador da Lava Jato no Paraná emendou: "Mas, na verdade, o verdadeiro cúmulo do cinismo é a cegueira intencional da maioria dos ministros do TSE em relação à corrupção exposta pelo acordo do MPF [Ministério Público Federal] com a Odebrecht".
Segundo Lima, "deve-se parar de fingir que nada aconteceu. Deve-se parar de desejar a retomada da economia, ou pior, a manutenção desse ou aquele partido no poder à custa da verdade. Cinismo é fingir que tudo está superado apenas porque o PT saiu do governo".
"A corrupção é multipartidária e institucionalizada. Ela é a maneira pela qual se faz política no Brasil desde sempre. Ou acabamos com a corrupção, ou a corrupção acaba com o Brasil", completou.
O procurador da República Deltan Dallagnol, também coordenador da Lava Jato em Curitiba, apoiou posições do relator do processo no TSE, ministro Herman Benjamim, e do vice-procurador-geral eleitoral, Nicolao Dino, expostas na sessão de quinta-feira (8) do julgamento.
Em rede social, Dallagnol escreveu: "A soltura de Dirceu pelo STF foi incoerente com decisões prévias de Gilmar, Toffoli e Lewandowski. Ministro Herman expõe na TV incoerência no TSE".
Na primeira parte da publicação, o procurador referiu-se ao julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal) que determinou a libertação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que havia sido preso e condenado em razão de acusações na Operação Lava Jato.
Na sessão do STF no último dia 3 de maio, os magistrados citados por Dallagnol, os ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, votaram favoravelmente à soltura de Dirceu.
O ministro relator do caso, Edson Fachin, e o decano da corte, Celso de Mello, deram votos pela manutenção da prisão do ex-ministro da Casa Civil.
Na segunda parte do texto, Dallagnol fez menção às manifestações do ministro Benjamin no julgamento do TSE em defesa da possibilidade do uso das provas da colaboração premiada de executivos da Odebrecht no processo da chapa Dilma-Temer.
Nas sessões da corte eleitoral, Benjamin citou várias afirmações feitas pelo ministro presidente do TSE Gilmar Mendes em 2015 em defesa da tese de que o caso de corrupção da Petrobras, que envolve a Odebrecht, deveria ser levado em consideração no processo da chapa Dilma-Temer.
No julgamento desta semana, Mendes liderou a posição de que os testemunhos da colaboração premiada de executivos da Odebrecht não poderia ser apreciada na causa, em oposição ao entendimento de Benjamin.
Em outra publicação, Dallagnol citou o vice-procurador-geral eleitoral.
"O procurador-geral eleitoral Nicolao Dino alerta: o que se achou que era um tumor tomou o corpo em metástase. O sistema político apodreceu", escreveu o coordenador da Lava Jato.
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