Divulgada nesta sexta-feira (9), a inflação de maioconfirmou a trajetória de queda acelerada, com a qual se conta para a recuperação consistente da economia.
Em 12 meses, o IPCA acumulou variação de 3,6%, a menor taxa em uma década —recorde-se que a meta anual é de 4,5%.
A calmaria dos preços contrasta com preocupações manifestadas pelo Banco Central, na esteira da turbulência política que corroeu a credibilidade do presidente Michel Temer (PMDB).
Em nota de 31 de maio, a instituição mencionou que o "aumento da incerteza" recomendava moderação no ritmo dos cortes de sua taxa de juros, hoje de ainda elevadíssimos —considerados os padrões internacionais e a debilidade da atividade doméstica— 10,25% anuais.
Nesta semana, em documento mais alentado, o BC detalhou seus temores quanto a um possível impacto inflacionário da crise brasiliense. Felizmente, no entanto, reconheceu que também há razões para esperar um efeito oposto.
É verdade que, ao longo da história do país, momentos de aguda insegurança levaram a surtos de alta das cotações do dólar. Tais movimentos defensivos de investidores, em busca da solidez da moeda americana, provocaram o encarecimento dos produtos importados e, portanto, da inflação.
Foi o que se observou logo que veio a público a delação da JBS, com o diálogo comprometedor entre o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista. Naquele 18 de maio, o dólar subiu mais de 8%, para R$ 3,39. O movimento, porém, não se sustentou, e a cotação hoje é de R$ 3,29.
Com farta reserva de divisas, dívida externa sob controle e expressivo superavit no comércio com o exterior, o Brasil enfrenta hoje riscos menores de uma brusca desvalorização cambial.
Outro possível revés, conforme o Banco Central, viria do provável atraso das reformas econômicas, em especial a da Previdência Social, que elevaria a possibilidade de insolvência futura do governo. Nesse cenário, o mercado credor demandaria juros maiores para emprestar ao setor público.
Tal hipótese afigura-se um tanto abstrata, ao menos até aqui. Pelo contrário, a ameaça à agenda legislativa tende antes a abalar a confiança de empresários e consumidores. Com desemprego próximo de 14%, consumo e investimentos ainda em queda, não há sinais de pressões inflacionárias à vista.
Fez bem o BC, portanto, ao ajustar sua mensagem pública e deixar aberta a porta do abrandamento dos juros. Depois de três anos de recessão devastadora, importa não abortar a retomada econômica que mal se iniciou.
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