Igor Gielow | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Pressionada a desembarcar do governo Michel Temer, a cúpula do PSDB opera para evitar uma decisão final sobre o assunto em reunião marcada para a próxima segunda (12).
Após conseguir adiar o encontro que ocorreria na quinta (8), integrantes da ala mais experiente da sigla costuram uma forma de agradar aos "cabeças pretas", os deputados mais jovens e que defendem a saída imediata do governo –o PSDB tem quatro ministérios.
Inicialmente, a ideia era a de um desembarque à moda tucana: mantendo os ministros que se considerassem à vontade para ficar no cargo, dando apoio parlamentar à agenda do governo e, ao mesmo tempo, proclamando o rompimento.
Nesta sexta (9), com Temer já virtualmente livre do risco de cassação após as deliberações do dia anterior no Tribunal Superior Eleitoral, formou-se o consenso de que é melhor não haver uma decisão final na segunda.
Resta combinar com os "cabeças pretas". O líder do partido na Câmara, Ricardo Trípoli (SP), faria a ponte entre os dois grupos. A articulação deverá durar todo o fim de semana, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltou dos EUA para participar de conversas.
O presidente interino do partido, senador Tasso Jereissati (CE), defende o rompimento, por entender que Temer sob cerco é ruim para a economia do país.
Ele foi lançado como presidenciável numa eleição indireta caso Temer venha a cair, juntamente com FHC, mas o partido baixou a bola dessa articulação para não melindrar aliados como o PSD, o DEM e o próprio PMDB.
O partido continua a considerar que Michel Temer terá sérias dificuldades para chegar ao fim do mandato, mas de todo modo a avaliação está um ou dois tons abaixo daquela feita há duas semanas.
Como integrou o governo de saída, o PSDB quer evitar a pecha de traidor, embora a ala jovem considere que ficar com o peemedebista seja fatal do ponto de vista eleitoral em 2018.
A tendência majoritária pela saída está matizada pela necessidade de fazer o processo de forma controlada.
As próximas estações da via-crúcis de Temer, como a necessidade de derrubar na Câmara a inevitável denúncia que será feita contra o peemedebista pela Procuradoria Geral da República, além dos tais fatos novos de delações, será determinante para o ritmo do partido.
Os meses até a saída do cargo do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em setembro, serão marcados por uma saraivada de más notícias contra o Planalto.
No caso específico da votação para barrar ou autorizar que Temer vire réu, o Planalto tem os 172 votos necessários hoje, e conta com o corporativismo de um Congresso que se vê acuado pela mesma Procuradoria que enfrenta o presidente.
Enquanto tenta achar um caminho, o PSDB já decidiu adiar por ora qualquer definição sobre a permanência ou não do senador Aécio Neves (MG) na sua presidência.
Aécio foi afastado do mandato de senador por ordem do Supremo na etapa da Operação Lava Jato que atingiu o mineiro diretamente, na esteira da delação da JBS.
Os "cabeças pretas" defendem que o tucano, que está licenciado da posição partidária, renuncie a ela. Senadores da sigla acham que ele pode permanecer afastado para se defender.
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