Gustavo Uribe, Daniel Carvalho, Talita Fernandes, Folha de S. Paulo
Com a possibilidade de o presidente Michel Temer não reunir apoio suficiente para se manter no cargo, os partidos da sua base começaram a discutir a configuração de um governo de transição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O principal consenso é o de que a nova gestão teria que manter os ministros da equipe econômica, Henrique Meirelles (Fazenda) e Dyogo Oliveira (Planejamento).
Maia tem simpatia por Meirelles e Dyogo, que defendem as mesmas bandeiras que ele. De acordo com aliados, é essencial que ele faça um aceno ao mercado financeiro, garantindo a continuidade da linha econômica e se comprometendo com as reformas.
Nesta sexta-feira (7), mensagens publicadas por Maia em redes sociais já foram interpretadas por agentes de mercado como a conduta que deverá ser adotada pelo parlamentar caso o presidente seja afastado temporariamente.
Em viagem à Argentina, ele escreveu que é preciso "tranquilidade" para sair da crise e que não pode ficar satisfeito "apenas" com a reforma trabalhista. "Temos [as reformas da] Previdência, tributária e mudanças na legislação de segurança pública", afirmou.
Interlocutores de Temer telefonaram para Maia nesta sexta. Segundo a Folha apurou, eles disseram ao presidente da Câmara que reconhecem que ele tem sido leal, mas deveria orientar seus aliados para não ficar marcado como traidor.
Primeiro na linha sucessória do Palácio do Planalto, Maia poderá assumir temporariamente o cargo por até seis meses caso a Câmara e o STF (Supremo Tribunal Federal) aprovem o recebimento da denúncia por corrupção passiva contra Temer. O afastamento só se dá após análise da Justiça, mas antes é necessária uma autorização da Câmara por ao menos 342 votos.
Para integrantes da base governista, apesar de inicialmente se tratar de uma gestão provisória, Maia teria de fazer mudanças na equipe ministerial para se descolar da administração anterior, mas não poderá passar a imagem de um ruptura total, já que há a possibilidade de Temer ser inocentado pelo STF e retornar ao posto.
Segundo aliados do parlamentar, para garantir uma administração com apoio no Poder Legislativo, Maia teria de abrir espaço para partidos de esquerda como PT, PC do B e PDT, que, embora digam que ele teria que aceitar discutir a pauta de reformas, têm participado da articulação para que assuma o Palácio do Planalto. Além disso, ele não poderá desprezar o PMDB, sigla de Temer.
O partido comanda o Senado, com Eunício Oliveira (CE), e chefiaria também a Câmara com Fábio Ramalho (MG), hoje vice.
Nas palavras de um senador peemedebista, Maia poderá até se tornar adversário do PMDB, mas não deve se comportar como um inimigo, o que poderia implodir antecipadamente uma eventual aliança para a sucessão presidencial de 2018.
Para estabelecer identidade própria, a ideia defendida é a de que Maia faça trocas na chamada cozinha do Planalto e coloque nomes de sua confiança e descolados de Temer em pastas como Casa Civil, Secretaria de Governo e Secretaria-Geral.
Ele, contudo, não poderá se desfazer de figuras-chave da atual gestão, como Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral). Aliados de Maia querem que eles sejam deslocados para outras pastas na Esplanada, o que garantiria foro privilegiado a ambos, já que são alvos de investigação na Lava Jato.
A base governista conseguiu nesta sexta-feira (7) atingir o quórum mínimo para abrir uma sessão da Câmara, o que pode ajudar a manter o cronograma de votação da denúncia contra o presidente.
A previsão é que o relatório sobre a denúncia seja votada na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) na próxima semana.
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