Mercado financeiro quer garantia de política econômica
Analistas e executivos já se manifestam pela permanência da equipe de Meirelles, independentemente de quem ocupar o Planalto
Alexa Salomão, O Estado de S.Paulo
Na semana em que o presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), dividiram as atenções nas articulações para eventual substituição na Presidência da República, quem também assumiu o protagonismo político no mercado foi a equipe econômica. Para analistas, economistas e empresários, mais importante que escolher entre Temer e Maia, é garantir a permanência do time comandado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Em retrospecto, quem acompanha o trabalho de reconstrução das contas públicas lembra que o País só recuperou o rumo porque soube selecionar um corpo técnico eficiente para tocar a economia. “A turma escolhida para ocupar o Tesouro Nacional, o Banco Central e a Fazenda salvou o País do desastre econômico no ano passado”, disse o presidente do Insper, Marcos Lisboa, que foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
Executivos de grandes empresas já assumiram a posição abertamente. “Independentemente do que acontecer, é fundamental manter a equipe econômica e continuar as reformas”, afirmou o presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva. Theo Van Der Loo, presidente da Bayer no Brasil, concorda. “A manutenção da atual equipe dará maior confiança e cria menos instabilidade.”
O setor financeiro tem leitura similar. O economista-chefe do Santander Brasil, Mauricio Molon, afirmou nesta sexta-feira, 7, durante evento da instituição na Espanha, que o mercado precificou a permanência de Temer na Presidência, por causa da crise política, mas que uma mudança no time econômico jogaria o Brasil na instabilidade.
“O melhor para o País é que o quadro se defina o quanto antes, mas o mais importante é, seja lá quem venha a assumir, que a equipe econômica seja mantida”, disse o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
Reformas. Consultorias e instituições financeiras já preveem a substituição de Temer por Maia, enfatizando que o mais importante é manter a agenda e a equipe econômica. Em análise distribuída a clientes, a XP Investimentos, uma das maiores corretoras do País, afirmou que garantir a atual política econômica faz parte do jogo de forças política neste momento, e citou o presidente da Câmara.
“Maia lançou seus compromissos de governo no Twitter. Com a manutenção da agenda econômica ele garante também a manutenção do time econômico. Vai ficando evidente que a assunção de Maia serviria para virar a pauta do País de volta para as votações no Congresso.”
Para o empresário Guilherme Paulus, fundador da CVC, a equipe econômica tem feito um “grande trabalho”. “Se o governo mudar mesmo, será muito importante manter a equipe econômica para que haja menos incertezas. É uma equipe muito consistente, tem satisfeito as ansiedades e Meirelles tem feito um grande trabalho.”
Paulus avaliou que, com consistência econômica, o País pode fazer a transição. “Abri a CVC há 45 anos, passei por inúmeros pacotes, planos, e sempre vamos em frente, indo atrás do dinheiro e consertando as burradas políticas. Os empresários brasileiros têm aprendido a não depender do governo.”
Base política. A possibilidade de Maia de assumir a Presidência é vista pela base como uma “continuidade” em relação aos espaços ocupados no governo e à agenda de reformas de Temer. Segundo interlocutores do presidente da Câmara, em uma sinalização ao mercado, Maia manteria a equipe econômica, especialmente Meirelles.
Apesar de divergências pontuais, o deputado tem defendido a agenda econômica iniciada por Temer e já atuou como “líder do governo” para aprová-la. Nesta sexta-feira, Maia usou as redes sociais para defender o andamento das reformas no Congresso. / Colaboraram Cleide Silva, Cristiane Barbieri, Luciana Dyniewicz, Aline Bronzati, Mônica Scaramuzzo, Isadora Peron e Daiene Cardoso
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