Mais um ponto luminoso apareceu na economia, com o novo recuo da inflação. Os preços pagos pelo consumidor diminuíram 0,23% em junho, puxados para baixo pelos três maiores componentes do orçamento familiar, os custos da alimentação, da moradia e do transporte. Esse número foi o mais baixo para o mês desde o começo do Plano Real, em 1994, e o primeiro resultado negativo desde junho de 2006, quando o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou 0,21%. Mas há outros detalhes muito favoráveis no relatório divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado anual foi o mais baixo em pouco mais de dez anos: a taxa de 3% acumulada em 12 meses é a menor desde abril de 2007, quando ficou em 2,96%. Se o País, como disse em tom injustificadamente alarmista o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), estiver no rumo da ingovernabilidade, os brasileiros terão pouco tempo para festejar os sinais positivos acumulados nos últimos meses, como o melhor comportamento dos preços, a reação dos negócios em alguns setores e a incipiente redução do desemprego.
A deflação registrada em junho é mais um bom argumento a favor de uma redução mais ampla de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no fim deste mês, segundo alguns analistas. Pode ser, mas também se pode argumentar a favor de maior prudência. A deflação é passageira e novas pressões deverão elevar a taxa mensal no segundo semestre. O movimento será provavelmente moderado, se nenhum desastre ocorrer ou se nada tornar o quadro político mais turbulento do que tem sido há pouco mais de um mês.
Mas esse segundo risco é relevante, neste momento, e ninguém deve descartá-lo. Enquanto persistir alguma incerteza quanto à Presidência da República, haverá motivos ponderáveis para cautela na política de crédito.
Segundo o presidente do Banco Central (BC) e do Copom, Ilan Goldfajn, as decisões sobre os juros continuarão a depender tanto da evolução dos preços e das condições da economia como das perspectivas da política fiscal e, portanto, da pauta de reformas. O comitê, segundo ele, “tem sido bastante explícito” quanto a esse último ponto. Reformas são uma necessidade, acrescentou Goldfajn. Não são apenas uma opção.
A insistência nessa questão confirma a orientação adotada pelo Copom desde a mudança da diretoria do BC, no ano passado. O compromisso é buscar uma redução sustentável dos juros. Isso dependerá de uma evolução favorável da taxa estrutural de juros, aquela compatível com o funcionamento sustentável da economia.
A redução duradoura desse indicador estará associada, necessariamente, à melhora das condições das finanças públicas e ao funcionamento mais eficiente da economia nacional. Daí a importância da implementação da pauta de reformas. O governo as chama de “estruturantes”, porque podem afetar amplamente as condições de operação da economia, facilitando o financiamento das funções governamentais e aumentando a eficiência das atividades produtivas.
Não há como negar o enorme avanço conseguido na contenção da alta de preços em cerca de um ano. Na passagem de 2015 para 2016 o IPCA subia em ritmo superior a 10% em 12 meses. A taxa foi reduzida para 6,29% até o fim do ano passado e continuou em declínio em 2017, atingindo 3% em junho. A ação do Copom foi indispensável para esse resultado, mas a retração dos negócios e o desemprego muito alto contribuíram inegavelmente para a contenção dos preços. É preciso garantir condições para a inflação permanecer moderada quando a economia crescer mais velozmente, o desemprego cair e as famílias voltarem mais tranquilamente ao consumo.
Nada disso ocorrerá enquanto as contas públicas permanecerem como um poderoso fator de desajuste da demanda geral da economia e, portanto, dos preços. Sem isso, até a nova meta de inflação, de 4,25% ao ano a partir de 2019, poderá ser comprometida. O vínculo entre inflação, juros, ajuste fiscal e reformas é claro. Ignorá-lo é condenar o Brasil a mais anos de instabilidade.
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