- Folha de S. Paulo
A crer no noticiário, o clima entre políticos e agentes do mercado está virando, e Michel Temer poderá ser afastado. Ele seria substituído por Rodrigo Maia. Vejo essa articulação com bons olhos.
Embora Temer viesse tomando medidas sensatas na área econômica, que colocavam o país no rumo de uma retomada, suas pendências na Lava Jato acabaram por torná-lo um obstáculo à recuperação. A divulgação do áudio de Joesley Batista custou ao presidente o capital político que lhe permitiria aprovar reformas mais alentadas. Após a fita, os mais otimistas passaram a achar que ele arrancaria do Congresso, no máximo e por um preço muito maior, mudanças nas leis trabalhistas e uma reforma previdenciária ultradiluída.
Os mercados não gostaram, mas, como tinham mais medo das incertezas que uma deposição de Temer geraria, preferiram, num primeiro momento, tentar segurá-lo. À medida, porém, que foi ficando claro que ele não sairá tão cedo da linha de fogo —até Cunha poderá falar, as forças que agiam por sua manutenção começaram a perguntar-se se essa é a melhor opção. As hesitações foram reforçadas pela esperta decisão de Rodrigo Janot de fatiar as denúncias que oferecerá contra o presidente, colocando-o sob pressão contínua. Para políticos, estar associado a Temer converteu-se em risco eleitoral.
Num cenário desses, não é preciso muito para virar as percepções. A substituição de Temer por alguém semelhante a ele, mas com menos passivos éticos, e que manteria a atual equipe econômica começou a parecer uma solução preferível para políticos e empresários. Resta saber se essa ideia crescerá até arregimentar os 342 deputados necessários para autorizar o processo contra Temer e afastá-lo do cargo. Não será fácil, mas torço para que sim. Penso que, a essa altura, a troca favoreceria a economia e preservaria as instituições. Não dá para ter alguém tão enrolado na Presidência da República.
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