Nada ilustra com tanta eloquência a dificuldade em superar a brutal recessão, da qual o país ainda convalesce, quanto a queda contínua e profunda dos investimentos públicos e privados.
Tal modalidade de despesa, que abarca obras e equipamentos destinados a ampliar a capacidade de produzir, encolheu assustadores 30% ao longo de três anos e meio —e não há sinal consistente de que o processo esteja encerrado.
A cifra não evidencia apenas a quebra da confiança do empresariado, que passou a cancelar projetos de expansão à medida que uma gestão econômica irresponsável desaguava em impasses e incertezas políticas, agora reavivadas.
Demonstra-se também, a partir do detalhamento dos dados, o impacto devastador do colapso orçamentário do governo no potencial de crescimento da economia.
Trabalho recém-publicado pelo Centro de Estudos do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Cemec) descreve como União, Estados e municípios, além de forçados a cortar recursos para obras de infraestrutura, passaram a consumir parcelas crescentes da poupança de empresas e famílias que poderia financiar o setor privado.
O investimento brasileiro já era sofrível antes do início da recessão —destinava-se a tais operações cerca de 22% da renda nacional, bem abaixo do observado nos gigantes emergentes China (47%) e Índia (34%), que lideram o crescimento econômico global. Hoje, nossa taxa mal ultrapassa vexatórios 15%.
Ao longo desta década, o investimento público caiu de 3,2% para 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto o privado despencou de 18,6% para 13,7%.
No primeiro caso, evidencia-se o impacto do brusco ajuste do Orçamento após as eleições de 2014; no segundo, a queda foi acentuada pelo aumento dramático da dívida governamental.
Nas estimativas do Cemec, a tomada de dinheiro —por meio de empréstimos ou venda de títulos— pelas administrações federal, estaduais e municipais hoje absorve 60% da poupança disponível no setor financeiro, reduzindo o volume de recursos capazes de financiar empreendimentos.
Com a queda dos juros e o paulatino reequilíbrio orçamentário, mais financiamentos poderão ser direcionados ao setor produtivo. Tudo indica, porém, que o processo será lento, gradual e não muito seguro —assim como as perspectivas de retomada econômica.
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