Andreza Matais, O Estado de S. Paulo
A crise interna no PSDB chegou ao ápice com as declarações públicas do presidente interino do partido, Tasso Jereissati, de que o governo do presidente Michel Temer caminha para a ‘ingovernabilidade’. O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, que está no G-20 ao lado do presidente Temer, partiu para o contra-ataque. Leia íntegra da entrevista concedida à Coluna do Estadão.
O senador Tasso Jereissati disse que caminhamos para a ingovernabilidade. O partido mudou de posição?
A decisão [de permanecer no governo] foi tomada na Executiva e não foi revista, pelo contrário. Houve uma reunião memorável, convocada pelo senador Jereissati, em que ficou patente que o desejo da maioria do partido é apoiar o governo. Eu sou do tempo em que quando um partido tomava uma decisão coletiva os seus dirigentes se comprometiam em seguir essa decisão. É isso que confere estabilidade a um partido que tem vida orgânica como o PSDB, que não é de propriedade de meia dúzia de caciques como muitas legendas no Brasil.
Mas Tasso fala na condição de presidente do partido…
Esse tipo de declaração contribui para alimentar a crise e o resultado será o agravamento da situação econômica que começa a melhorar gerando uma situação de que o único beneficiário será o PT. Em 2018 teremos dois blocos políticos. Um liderado pelo PT e o outro pelas forças políticas que hoje apoiam o presidente Temer. Até do ponto de vista político essa linha é prejudicial ao partido.
Qual a consequência para o governo perder o apoio do PSDB?
Sair do governo seria provocar sua queda ou o enfraquecer substancialmente, aumentando a instabilidade política e plantando vento para colher tempestade porque quem vai lucrar com o agravamento da crise política não é mais ninguém além do PT. Uma boa parte da impopularidade do Temer decorre exatamente de ele estar seguindo a linha que nós propusemos a ele. Ou alguém acha que reforma trabalhista e da Previdência são populares? Eu estou seguindo o que foi definido pelo partido.
O senhor disse que nem Lula e Dilma, a quem o PSDB fazia oposição, receberam o tratamento dado por dirigentes do partido ao presidente Michel Temer. O que mudou?
Não sei. O presidente Temer está em Hamburgo representando o País numa reunião com líderes de Países que representam 4/5 da economia mundial, reunião em que o governo tem posições a defender, sobre clima, segurança, livre comércio. São interesses permanentes do País, não são coisas inventadas por dele. Na medida em que ele está aqui e esses interlocutores começam a jogar essas bombas no País, dentro do Brasil, isso enfraquece o presidente, enfraquece a interlocução dele para o encaminhamento de temas do mais alto interesse nacional a importunidade desse tipo de ataque.
O que enfraquece o presidente não é ele ter sido denunciado pela PGR?
A denúncia é de uma fragilidade constrangedora. Quem lê a defesa de Temer verá que a denuncia é fruto de uma ação facciosa do dr Janot, sem base em fatos, provas. Não há indício de que o presidente Temer tenha recebido ou solicitado vantagens indevidas. O procurador agiu como provocador de fato político visando à derrubada do governo. Não posso jamais subscrever esse tipo de atitude.
O senhor também é investigado a pedido de Rodrigo Janot.
Muitos integrantes do PSDB estão sendo investigados sem nenhum fundamento. Meu próprio caso. Janot diz que eu me reuni com Serra para fraudar licitação do Rodoanel. Mas a licitação ocorreu antes do governo Serra. Se houver denúncia [contra Temer] que tenha fundamento temos que examiná-la, mas essa não. Essa, me desculpe, qualquer terceiroanista de direito, e não precisa ser do Largo São Francisco, pode ser de qualquer outra, derruba.
A maioria dos deputados do PSDB na CCJ vai votar pela abertura de processo contra Temer…
Cada um é dono do seu nariz. Até ouvi o líder do PSDB na Câmara [deputado Ricardo Tripoli] dizer que cada um vota com sua consciência. Vai vota com que? (rindo) Muita gente vota com medo de perder a eleição de 2018, por oportunismo eleitoral. Na doce ilusão de que isso vai refazer o hímen político deles, não refará. A única chance de o PSDB ter condição é o País chegar organizado em 2018, para que possamos apresentar bom resultado que seja capaz de unir não só o partido, mas outras forças políticas que apoiam hoje o presidente Temer.
Rodrigo Maia tem condições de substituir Temer?
O improvável afastamento temporário do presidente Temer, caso a Câmara aceite a denuncia, longe de apaziguar a crise política provocará sua exacerbação. Vamos entrar num período de enorme instabilidade. Não haverá eleição indireta. O que haverá é um presidente temporário, porque a Constituição prevê que o afastamento se dá por até seis meses, com outro presidente lutando no STF, com todas as chances de êxito para ser absolvido. Vamos aumentar as incertezas políticas.
E o Rodrigo Maia?
Rodrigo Maia tem todas as virtudes e qualidades, mas seria um Presidente com uma fragilidade insanável decorrente da provisoriedade da investidura e da incerteza quanto ao desfecho do eventual julgamento de Temer no Supremo.
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