Para analistas, Rodrigo Maia teria maiores chances de aprovar reformas
Na Alemanha, presidente diz que ‘crise econômica no Brasil não existe’ e comete gafe ao afirmar que fez ‘voltar o desemprego’ no país; cresce o número de deputados favoráveis à aceitação da denúncia
Analistas do mercado já traçam cenário mais favorável na economia com a eventual saída de Temer. Eles avaliam que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, teria mais condições de conduzir as reformas da Previdência e trabalhista. Na Alemanha para reunião do G-20, Temer disse que não há crise econômica no Brasil e cometeu gafe ao afirmar que fez “voltar o desemprego”. Em Buenos Aires, Maia evitou defender o presidente, mas disse ter aprendido em casa “a ter lealdade”. Na CCJ, cresce o número de deputados a favor da denúncia contra Temer. A investidores, o tucano Cássio Cunha Lima disse que “em 15 dias o país terá novo presidente”.
Agenda Maia
Após ser lançado pelo presidente do PSDB, deputado pede ‘prudência’ e defende reformas
Janaína Figueiredo e Catarina Alencastro, O Globo
-BUENOS AIRES E BRASÍLIA- Um dia após ser apontado pelo presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), como o nome certo para assumir o Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), publicou mensagens eu sua conta no Twitter pedindo “tranquilidade e prudência”.
Em vez de defender o presidente Michel Temer, seu aliado, e rechaçar as declarações de Tasso da véspera sobre o estado “ingovernável” do país, Maia experimentou um tom neutro nos posts — como se respondesse à frase de Tasso, que falou sobre as condições de o presidente da Câmara “juntar partidos ao redor de um nível mínimo de estabilidade”.
“Precisamos ter muita tranquilidade e prudência neste momento. Em vez de potencializar, precisamos ajudar o Brasil a sair da crise. #reformas”, publicou Rodrigo Maia na rede social, que, depois, afirmou a jornalistas ser leal ao presidente.
A defesa das reformas trabalhista e previdenciária foi o assunto escolhido no dia em que seu nome foi ventilado como presidenciável, caso Temer seja afastado do cargo em decorrência da denúncia por corrupção passiva feita pela Procuradoria-Geral da República.
“Temos que estabelecer o mais rápido possível a agenda da Câmara dos Deputados”, acrescentou. Por último, Maia destacou que é preciso ir além da reforma trabalhista: “Não podemos estar satisfeitos apenas com a reforma trabalhista. Temos Previdência, tributária e mudanças na legislação de segurança pública”, escreveu.
Rodrigo Maia embarcou na quinta-feira para Buenos Aires com uma comitiva de peso, incluindo seis deputados que têm influência dentro dos seus partidos no Congresso. Em meio a especulações sobre sua viagem de dois dias no mesmo momento em que Temer embarcou para a Alemanha para participar do encontro do G20, o presidente da Câmara afirmou que a denúncia contra Temer “é grave” e “tem de ser respeitada”.
Aliados de Maia dizem reservadamente que o presidente da Câmara está articumento lando sua ascensão ao Planalto, mas despistando. Parlamentares próximos afirmam que ele tem sido “escorregadio” sobre o seu real papel nessa “campanha”.
Em seu segundo dia de atividades em Buenos Aires, Maia admitiu estar preocupado com a “crise tão profunda” que vive o Brasil e assegurou que mantém sua posição de aliança com o governo de Michel Temer. Durante os eventos do Foro Parlamentar sobre Relações Internacionais e Diplomacia Parlamentar, Maia não desgrudou do celular. O presidente da Câmara mostrou-se tenso e negou o que chamou de “especulações criativas”.
— Quando se vive uma crise tão profunda como essa, cabe especulação de qualquer tipo. Há algumas que li pela manhã que são muito criativas, mas têm pouca informação — disse Maia a um pequeno grupo de jornalistas.
“APRENDI EM CASA A SER LEAL”
Ao responder sobre sua expressão de preocupação durante o dia, o presidente da Câmara foi enfático.
— Se você pensar que o Brasil vive uma crise tão profunda, quem tem responsabilidade com a democracia, com o futuro do Brasil, se falar que não está preocupado, estará mentindo. É claro que a gente tem preocupação, principalmente na posição que estou hoje. Qualquer movimento que eu faça é interpretado — assinalou. E frisou: — Aprendi em casa a ser leal, correto e serei com o presidente Temer sempre.
Maia negou, ainda, um suposto acordo entre PSDB e DEM para começar a minar a base parlamentar de Temer e trabalhar por uma derrota do presidente na Câmara, que vai votar sobre a aceitação ou não a denúncia feita pela PGR.
— Sou presidente da Câmara, meu partido e eu pessoalmente somos aliados do presidente Michel Temer apesar de toda a crise, e eu disse ao presidente de meu partido, no primeiro dia da crise, que, se tivesse de acontecer alguma coisa, o DEM deveria ser o último a desembarcar do governo. Vamos aguardar, vamos manter a nossa posição de apoio ao governo — prometeu. Rodrigo Maia reiterou que, como presidente da Câmara, não cabe a ele “fazer defesas na tribuna da Câmara”.
Ele disse que será o coordenador das votações do processo da denúncia e que, por isso, tem se mantido afastado do tema. Questionado se também estaria “afastado de Temer”, o deputado sorriu e disse que “não do Temer e não dos temas do governo que é uma agenda que tira o Brasil dessa profunda crise que nós já vivemos há três anos”. O único momento de descontração de Maia foi quando conversou por telefone sobre a vitória de seu time, o Botafogo.
Ao ver que os jornalistas estavam ouvindo a conversa, brincou: — Botafogo, estamos comemorando nossa vitória, esse é o assunto daqui. Enquanto Maia e Temer não voltam do exterior, está surgindo na Câmara o movimento “Maia presidente”. Aliados que acompanham a comitiva de Temer na Alemanha relatam a colegas que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem sido mais procurado para conversas do que o próprio presidente. Enquanto a situação de Temer se deteriora, partidos aliados veem o voto do relator da denúncia na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Sergio Zveiter (PMDB-RJ), como modeterminante para o presidente. Se o relatório for a favor da denúncia por corrupção passiva apresentada pelo Ministério Público contra Temer, as chances do peemedebista se recuperar são consideradas baixas. Isso porque Zveiter é do mesmo partido do presidente.
JULGAMENTO POLÍTICO
Se o próprio partido de Temer não quiser salvá-lo, será, na avaliação de integrantes da base, um sinal verde para que o restante dos partidos aliados sigam também no mesmo caminho de aceitação da denúncia. O voto do relator será apresentado na segunda-feira. Em seguida, advogados de defesa de Temer discursarão contra a peça acusatória preparada por Janot.
— Se vier negativo para o governo, o voto do relator será muito ruim. Vai ficar muito complicado para o presidente Michel Temer conseguir virar o jogo — diz Efraim Filho, líder do DEM na Câmara.
Embora aliados ainda estejam se movimentando para trocar deputados na CCJ, na tentativa de garantir votos próTemer, todos observam a dinâmica da crise, evitando se comprometer precipitadamente. O PP, que sempre foi fiel ao governo, avalia mexer em sua composição na CCJ. Mas a sigla ainda não definiu como se posicionará em relação à denúncia.
— Ainda não fechamos essa questão da denúncia. O julgamento será 100% político. Ali será possível medir a força do governo — pontua o deputado Arthur Lira (AL), líder do PP.
Outro partido importante da base, o PSDB já decidiu que não fará trocas na CCJ, e dos sete membros tucanos da comissão apenas um deve votar a favor de Temer. (Colaborou Cristiane Jungblut)
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