sábado, 8 de julho de 2017

Mantega fez central para vender dados a bancos, diz Palocci

Palocci diz que Mantega fez central de venda para bancos

Marina Dias, Daniela Lima, Mônica Bergamo, Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Nas negociações para fechar um acordo de colaboração premiada, o ex-ministro Antonio Palocci sustenta que seu sucessor na Fazenda, Guido Mantega, montou uma espécie de central de venda de informações para o setor financeiro durante os governos petistas.

A sede seria o prédio do Ministério da Fazenda em São Paulo, na avenida Paulista, onde Mantega costumava despachar às sextas-feiras.

Palocci implica o sucessor em um suposto esquema de repasse de informações privilegiadas. Segundo ele, Mantega antecipava dados a respeito de juros e edição de medidas provisórias, por exemplo, que eram de interesse de bancos, em troca de apoio ao PT.

De acordo com Palocci, agentes do sistema financeiro tinham acesso antecipada ou privilegiadamente a dados importantes e, assim, podiam se preparar ou mesmo se proteger diante de medidas que afetariam o setor.

Mantega declarou, por meio de seu advogado, que vê a acusação com "estranheza".

De acordo com relatos de quem tem acesso às investigações, o esquema começou no governo Lula, em 2006, e seguiu durante o governo Dilma Rousseff, enquanto Mantega foi ministro, até 2015.

Antes de Mantega, quem ocupava a chefia da equipe econômica de Lula era justamente Palocci. Os dois nunca se deram bem.

LULA E EMPRESÁRIOS
Palocci foi condenado pelo juiz Sergio Moro, responsável pelas ações da Lava Jato em Curitiba, a 12 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, envolvendo contratos com a Odebrecht na construção das sondas da Sete Brasil e o Estaleiro Enseada do Paraguaçu.

Mantega, por sua vez, é investigado na Lava Jato e chegou a ter sua prisão preventiva decretada no ano passado –foi liberado em seguida–, acusado de ter pedido ao empresário Eike Batista R$ 5 milhões para saldar dívidas de campanha eleitoral do PT.

Como mostrou a Folha em maio, Palocci tenta negociar, no acordo de delação, que sua pena seja cumprida em um ano de prisão domiciliar e que seus depoimentos sejam focados em banqueiros e empresários, além de Lula.

Preso desde setembro de 2016, Palocci tem se dedicado à elaboração dos anexos de sua proposta de acordo com a PGR (Procuradoria-Geral da República) e a força-tarefa da Lava Jato.

Como a delação ainda não foi assinada, pode haver mudança no conteúdo do acordo segundo os principais interesses dos procuradores.

Para dar início às conversas, por exemplo, os investigadores exigiram que Palocci confirmasse informações sobre Lula que estão nas delações de ex-executivos da Odebrecht, principalmente no diz respeito à conta "Amigo", que estaria ligada ao ex-presidente petista. Palocci sinalizou positivamente sobre atender a esta solicitação.

Segundo o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht, Palocci operava uma conta propina destinada às demandas políticas de Lula.

Outro episódio que Palocci pode esclarecer, de acordo com os procuradores, é o suposto benefício financeiro obtido por Lula na criação da Sete Brasil, em 2010.

A empresa contratou para construir sondas estaleiros controlados por empreiteiras investigadas pela Lava Jato.

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