- Valor Econômico
O plano de voo do PSDB rumo ao Palácio do Planalto
O governador Geraldo Alckmin causou boa impressão em sua viagem a Washington, semana passada. A primeira como candidato do PSDB, pois quando chegou à capital americana o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, já havia desistido de disputar uma eleição prévia à indicação nunca realmente desejada pelos tucanos. Geraldo conversou com pessoas do mercado financeiro, empresários e acadêmicos, deixando a impressão de um "candidato sensato", segundo um de seus interlocutores.
O pré-candidato do PSDB, aparentemente, tem um plano de voo traçado até as eleições e outro pronto para o primeiro ano de governo, caso seja eleito em outubro. O baixo desempenho nas pesquisas e a revoada, desde já, de potenciais aliados, não parecem preocupar o governador de São Paulo. Nas palestras e conversas que teve em Washington - sempre com o economista Persio Arida a tiracolo -, Alckmin considerou absolutamente normal a inflação de candidaturas do centro-direita, a esta altura da disputa. Alckmin disse que o embrião da candidatura Geraldo é o bloco que o PSDB fez em fevereiro último com 11 partidos e 201 deputados.
Antes de acertar a coligação em nível nacional, Alckmin explicou aos interlocutores que a prioridade de Geraldo deve ser a construção dos palanques regionais. O problema do governador começa dentro de casa. O prefeito João Doria, o ministro Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia) e o governador, tanto na condição de Geraldo como na de Alckmin, já bateram o martelo em torno da chapa Doria-Kassab. Mas o acerto sofre contestação de outros setores do PSDB, cujas reuniões passaram a espelhar as antigas apurações do desfile de escolas de samba, com tabefes e cadeiradas trocados entre tucanos da melhor estirpe. Parece muito distante o tempo em que Aécio Neves, em 2014, tirou em São Paulo 7 milhões de votos de diferença sobre o PT.
Maior parece a encrenca em Minas Gerais, que o PSDB governou por cerca de 20 anos, agora com o PT. O problema do palanque estaria em grande parte resolvido se o senador Antonio Anastasia, duas vezes governador, aceitasse encabeçar uma chapa ao governo do Estado. É o desejo de Geraldo. Anastasia saiu limpo do lamaçal em que o senador Aécio Neves atolou o PSDB mineiro, além de ser um político mais presente no Estado, comportamento muito caro aos mineiros.
Minas é o segundo maior colégio eleitoral do país e o governador Fernando Pimentel, que é do PT, passou parte o mandato entocado no Palácio da Liberdade, acuado por denúncias. Um bom cenário para Anastasia, um nome competitivo, que, no entanto, não quer disputar eleição para o governo. Pelo menos esta eleição. E nem tem vontade de ser candidato a vice, como chegou a ser noticiado. O PSDB não criou raízes no Rio de Janeiro, o outro vértice do "Triângulo das Bermudas" - São Paulo, Rio e Minas -, a região que concentra o maior número de votos do país.
À primeira vista, Alckmin acredita que candidaturas do tipo Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, atualmente filiado ao PSD, e Rodrigo Maia (DEM), presidente da Câmara dos Deputados, passarão por um processo natural de filtragem, nos próximos 40 dias, findos os quais restará o candidato do PSDB, ou seja, o Geraldo. O governador de São Paulo acha que então será inevitável receber o apoio, no segundo turno, dos partidos de centro que eventualmente compuserem outras alianças eleitorais à direita.
O PSDB fará o maior esforço para manter boas relações com o DEM no primeiro turno, mesmo que o partido tenha um candidato a presidente, como declarou ao lançar o nome do deputado Rodrigo Maia. Em São Paulo, por exemplo, é virtualmente certo o apoio do DEM à chapa do PSDB ao governo estadual. Uma saída para o imbróglio mineiro seria o apoio do PSDB a um nome do DEM, mas este é um rolo que vai exigir toda a capacidade de articulação de Geraldo - o nome de guerra de Geraldo Alckmin na campanha presidencial de 2006.
Geraldo pensa federalizar a questão da segurança pública, que vive num jogo de empurra entre a União e os governos estaduais desde a promulgação da Carta de 88. Reflexo talvez da intervenção determinada por Michel Temer no Rio de Janeiro, o assunto permeou várias conversas de Geraldo nos EUA.
O governador, aliás, fez questão de registrar que ele foi o primeiro a sugerir a criação do Ministério da Segurança, efetivada agora por Michel Temer. Verdade: a promessa está lavrada à página 189 de seu programa de governo para as eleições de 2006 (proposta mais tarde reciclada por José Serra, em 2010, e logo apropriada por Dilma). Geraldo promete também criar a Agência Nacional de Inteligência na área específica da segurança pública.
O PSDB está fora agora do governo de Michel Temer, mas em Washington Alckmin recorreu ao plural para falar dos avanços do governo: "Nós" controlamos a recessão, "nós" baixamos a inflação. E o MDB está nos cálculos do governador para a composição de uma chapa vitoriosa, mas este é assunto para ser amarrado mais tarde. Geraldo também já tomou uma decisão: a escolha do candidato a vice-presidente somente será feita em julho, já próximo ao fim do prazo da convenção para a escolha do candidato.
Alckmin apoiou as reformas propostas por Temer, aquelas aprovadas ou ainda em tramitação, mas a ordem que Geraldo pretende imprimir às propostas é diferente: disse que a primeira que pretende apresentar é a reforma política. Segundo o governador, não dá para governar com quase 30 partidos representados na Câmara. "Com essa fragmentação ninguém governa", disse, segundo a anotação feita por um empresário presente. As outras duas reformas seguintes são a da Previdência e a tributária, também encalhadas no Congresso há anos.
Em seu giro por Washington, Geraldo prometeu uma grande novidade: ele quer propor, votar e aprovar as reformas no primeiro ano de governo. Seria um avanço. Mas reforma é moeda de troca que o Congresso não gosta de abrir mão. Quando mais demora a votar, mais caro é o apoio.
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