quarta-feira, 9 de maio de 2018

Dividido, PSB inclina-se em direção a Ciro

Por Marcelo Ribeiro, Raphael Di Cunto e Fernando Taquari | Valor Econômico

BRASÍLIA E SÃO PAULO - A decisão do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa (PSB) de não concorrer à Presidência da República fortaleceu a corrente do partido que quer apoiar o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT). A aliança tem a simpatia dos dirigentes do partido no Nordeste - maioria na legenda - do ex-prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, e do governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg.

Contra estão o governador de São Paulo, Márcio França, que faz campanha por seu antecessor, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), e um grupo favorável à candidatura própria, liderado pelo ex-deputado federal Beto Albuquerque.

Segundo fontes ligadas à cúpula do PSB, o martelo deve ser batido apenas em uma nova reunião da Executiva Nacional, que ainda não tem data para acontecer. Ao Valor, interlocutores do presidente do partido, Carlos Siqueira, admitiram que o nome que reúne mais condições de ter o apoio do partido na corrida presidencial é Ciro Gomes. Internamente, o nome dele já era tratado como eventual plano B caso Barbosa decidisse não participar da eleição.

Na avaliação de dirigentes do PSB, Ciro tem vantagem em relação aos pré-candidatos Geraldo Alckmin, do PSDB, e Marina Silva, do Rede, por ter maior apelo no Nordeste, o que poderia beneficiar candidatos do PSB ao governo de Estados da região. Em um encontro com Siqueira, Ciro ofereceu o apoio do PDT aos candidatos do PSB ao governo de pelo menos 10 estados, caso o partido apoiasse sua candidatura à Presidência.

Um eventual apoio à pré-candidatura de Marina, com quem o PSB compôs aliança na disputa de 2014, também sofre resistência interna. De acordo com integrantes do partido, a "dobradinha" com Marina na eleição anterior gerou muitos problemas, o que faz com que prevaleça a percepção de que não há ambiente para a apoiar a pré-candidata do Rede neste momento.

Entusiasta de um apoio do PSB ao tucano Geraldo Alckmin na eleição presidencial, Márcio França reagiu de forma fria à desistência de Barbosa. "O momento político do país tem atraído 'outsiders' que, após se colocarem à disposição, acabam se retirando da disputa. [Barbosa] não é o primeiro e nem será o último. A política hoje exige experiência e enorme capacidade de suportar críticas e injustiças", disse ao Valor.

Em entrevista à Rádio Bandeirantes, França já tinha dito que a decisão de Barbosa era esperada diante da pressão e do desgaste que cercam o cenário político. "Desde o início disse que ele não suportaria a pressão, esse liquidificador humano que é a vida pública", afirmou o governador, acrescentando ser preciso ter "estômago de aço" para aguentar a exposição e as críticas".

Secretário nacional de Finanças do PSB, França deve retomar os esforços por uma aliança nacional da sigla com o PSDB de Alckmin. Em troca espera pelo apoio do tucano à sua reeleição. É uma posição minoritária dentro da sigla.

Liderados por Beto Albuquerque, vice-presidente nacional do PSB, um grupo de militantes defenderá buscar um candidato alternativo. "Nenhuma outra candidatura, seja Ciro, Alckmin ou Marina, nos une", afirmou Albuquerque. O próprio ex-deputado se lançou, mas diz que agora está focado em outro projeto. "O prazo que eu ofereci ao partido já passou", disse.

O governador Rodrigo Rollemberg discorda. "O PSB, para ter candidatura própria, tem que ser nome de expressão nacional. O Joaquim Barbosa tinha. Não sendo de expressão nacional, o PSB ajuda mais buscando ser o cimento para aglutinar o campo político da centro-esquerda", defendeu. Nessa aliança imaginada por ele no primeiro turno estariam PSB, PDT, PV, PCdoB e Rede - o PT ficaria de fora num primeiro momento. "Com a saída do Joaquim, eu acredito que o Ciro se tornará um candidato muito competitivo. Nesse campo, talvez seja quem reúna melhores condições", declarou.

O secretário-geral do PSB, Renato Casagrande reforçou que não há mais "um candidato natural a presidente". Os governadores da Paraíba, Ricardo Coutinho, e de Pernambuco, Paulo Câmara, não quiseram comentar. (Colaborou Marina Falcão, do Recife)

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