quarta-feira, 9 de maio de 2018

Vera Magalhães: A hora da peneira

- O Estado de S.Paulo

Pulverização inicial de candidaturas começa a dar lugar a um afunilamento

À medida que a corrida eleitoral avança, a inicial pulverização de candidaturas começa a dar lugar a um afunilamento. O movimento começou: candidaturas dos mesmos campos político-ideológicos começam a conversar, e a saída de Joaquim Barbosa da disputa tira do páreo o mais próximo que havia restado de um “outsider” do jogo da política tradicional.

Justamente por reunir atributos desejados pelo eleitorado cético com a política, Barbosa era o oponente visto como mais perigoso pelos concorrentes. Mas ele próprio surpreendeu a opinião pública e o PSB e, antes mesmo de o jogo começar para valer, anunciou que estava fora.

A forma voluntarista com que agiu tanto na filiação, aos 45 minutos do segundo tempo, quanto na desistência mostra que talvez tenha sido melhor que ele tenha saído logo agora. Política requer couro curtido, resiliência e disposição ao diálogo. E a situação para lá de delicada do Brasil nos campos institucional, político e econômico não combina com dúvidas tão “classe média sofre” como saber se a portentosa aposentadoria de um ex-ministro do STF seria suficiente para manter a família. A Presidência da República é infinitamente maior que isso.

A rapidez com que os “candidatos ao novo” desistiram da missão reforça a máxima das raposas velhas segundo a qual a política não é para amadores. O que mostra a total falta de sintonia entre o establishment político e o que deseja o eleitorado.

Se já não havia favoritos na atual disputa, como bem notou Eliane Cantanhêde em sua coluna, a saída de Barbosa retira da equação também a possibilidade de renovação. Ganham, num primeiro momento, os partidos mais estruturados, que já vinham tentando se reorganizar em torno de menos candidaturas.

Essas conversas continuam, ainda que o desfecho deva ocorrer apenas mais adiante. De um lado, Geraldo Alckmin tenta costurar uma ampla aliança de centro-direita, que esbarra na disputa velada entre DEM e MDB pelo lugar pelo lugar do copiloto e na hesitação do tucano em ter Michel Temer no centro do palanque.

De outro, a expectativa é de que as siglas de esquerda também se organizem de forma menos dispersa, e Ciro Gomes passa a ser um polo possível, a despeito da negativa do PT em apoiá-lo. O primeiro sinal foi dado pelo governador Flávio Dino (PCdoB-MA), e o PSB, ainda atordoado pelo fora que levou de Barbosa, pode também se aproximar do pedetista.

Nesta terça-feira, 11 pré-candidatos se revezaram num ensaio de debate em Niterói. Muitos desses não passarão pela peneira que já reteve Lula, preso, e os aspirantes a um novo que insiste em não vir. A tabela abaixo traz os mais e menos cotados na bolsa de apostas.

TÔ FORA
Desistência não é inédita na vida de Joaquim Barbosa

Quem acompanha a trajetória de Joaquim Barbosa não chegou a se espantar com sua desistência em disputar a Presidência da República. A trajetória do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal inclui, não custa lembrar, a renúncia à cadeira no Tribunal Superior Eleitoral cinco meses antes de assumir a presidência da Corte, em 2009, e a aposentadoria antecipada do próprio Supremo, em 2014, aos 59 anos.

AJUSTE DE ROTA
Sem PT, Ciro pode fazer caminho rumo ao centro

Aliados e adversários do ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes esperam que o pré-candidato do PDT ao Palácio do Planalto intensifique os acenos ao centro nos próximos dias, depois que ficou (mais) claro que o PT não pretende apoiá-lo. A busca por um vice do meio empresarial e declarações como a que repetiu ontem, de que o setor produtivo não pode ser “demonizado”, já estão inseridas nessa nova estratégia.

PENEIRA ELEITORAL
Quem deve ficar e quem pode cair fora

Ficam
Jair Bolsonaro
Marina Silva
Geraldo Alckmin
Ciro Gomes
Álvaro Dias
João Amoêdo
Guilherme Boulos
Deve entrar
Candidato do PT

Podem sair
Rodrigo Maia
Paulo Rabelo de Castro
Aldo Rebelo
Manuela D'Ávila
Flávio Rocha
Michel Temer
Henrique Meirelles

Fora do baralho
Lula
Joaquim Barbosa

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