Por Cristian Klein, Bruno Villas Bôas e Rodrigo Carro | Valor Econômico
NITERÓI (RJ) - Depois de anunciada a desistência do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa (PSB) em concorrer ao Planalto, presidenciáveis que seriam concorrentes do ex-magistrado lamentaram a ausência do único outsider que poderia impactar as eleições de outubro. Reunidos em encontro da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), em Niterói, no Rio de Janeiro, a maioria afirmou que Barbosa fará falta a, mas houve quem já sonhasse em receber o espólio do pretenso eleitorado do ex-ministro do Supremo.
O pré-candidato e senador Alvaro Dias (Podemos-PR) afirmou que espera herdar as preferências eleitorais do ex-magistrado. "Espero sim herdar os votos de Joaquim Barbosa", disse o parlamentar, depois de participar do evento "Diálogo com os Presidenciáveis".
O ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, pré-candidato do MDB, também se disse animado: "Em função disso, teremos oportunidade de grande crescimento. Boa parte dos que o apoiam o fazem pela sua defesa da Justiça, da luta contra os malfeitos, e esses eleitores estão dispostos a votar em quem tem passado de probidade e também competência". Meirelles afirmou que é natural que candidatos de centro cresçam com a desistência de Barbosa.
"É uma minoria dos eleitores dele que estão alinhados ideologicamente", disse o presidenciável, que reafirmou sua candidatura, apesar das conversas sobre aliança entre o MDB e o PSDB, tratadas pelo presidente Michel Temer e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Para Ciro Gomes (PDT) e Rodrigo Maia (DEM), no entanto, não é possível saber ou não há um beneficiário claro da desistência de Barbosa. "Ninguém sabe quem ganha, porque ele não tinha se posicionado ainda. É uma figura importante, reconhecida nacionalmente, passou um ano e meio em horário nobre combatendo a corrupção, na questão do chamado escândalo do mensalão, mas ainda não tinha se explicitado do ponto de vista da economia política, para estar classificado neste ou naquele espectro", disse Ciro.
Primeiro a se apresentar, Maia saiu antes de o anúncio de Barbosa repercutir no evento. Mas, em Brasília, o presidente da Câmara dos Deputados afirmou que a desistência é "ruim" e que os votos do ex-ministro do STF vão se pulverizar entre os candidatos restantes. "Única coisa que eu sei é que fica tudo como estava, nada mudou", disse. Para Maia, os votos haverá pulverização pois Barbosa atraía eleitores de todos os campos políticos por ainda não ter se posicionado do ponto de vista ideológico: "Ele era mais uma representação de algo, vamos dizer, de fora da política".
Em regra, Barbosa foi tratado com deferência pelos presidenciáveis. Ciro afirmou que o refugo não deve ser comemorado. "A presença dele no debate era boa para o Brasil. É uma pessoa que, apesar de não ter vivência política - vem do Judiciário - representa um valor que as pessoas estão procurando: a decência no enfrentamento à corrupção", disse. Sobre procurar o PSB para apoiar sua candidatura, o ex-governador do Ceará afirmou que "é muito cedo ainda": "Temos que respeitar o tempo dos partidos".
Foi a linha também adotada por Marina Silva (Rede). A ex-senadora disse que respeita a decisão de Barbosa e que mantém o diálogo com o PSB. Evitou afirmar que vai procurar o partido para apoiá-la. "Temos identidade programática. Tanto que fizemos programa de governo em 2014 que é base do meu programa nesta eleição. Temos muitos pontos em comum", tangenciou. Em 2014, Marina era candidata a vice na chapa de Eduardo Campos e o substituiu depois da morte do candidato do PSB em acidente aéreo.
Alckmin afirmou que a desistência "é uma perda, porque precisamos de novas lideranças". "É uma decisão dele, não sei se é definitiva, mas tenho certeza de que se não for pela participação eleitoral, política, como candidato, será de outra forma. Ele tem espírito público, serviço prestado ao Brasil, nosso total respeito [a ele]". Ao deixar o encontro, Alckmin almoçou na Associação Comercial do Rio de Janeiro, onde foi um pouco além quando questionado sobre o cortejo ao PSB, legenda do governador Márcio França, que era seu vice, até se desincompatibilizar do cargo: "Olha, se dependesse de mim nós já estaríamos juntos com o PSB".
O presidente Michel Temer não teria demonstrado surpresa com o posicionamento do ex-magistrado. De acordo com auxiliares de Temer, a percepção que prevalecia no Palácio do Planalto é que "o PSB sabia que Barbosa não se lançaria na disputa e que o partido usou os rumores em torno da possível candidatura do ex-ministro do STF para fazer preço com ele". Com isso, na avaliação de assessores do presidente, a legenda comandada por Carlos Siqueira conseguiria se fortalecer para negociar alianças nas disputas estaduais em troca de apoio à candidatura de outro partido à Presidência da República.
Em conversas reservadas, Temer já tinha feito avaliações de que, ainda que o desempenho nas pesquisas pudesse empolgar, Barbosa não se colocaria na disputa por causa do financiamento da campanha. O PSB contará com R$ 118,8 milhões do fundo eleitoral, porém, esse valor terá que ser dividido entre as candidaturas a governos estaduais. (Colaboraram Cláudia Schüffner, do Rio, e Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro, de Brasília)
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