- Folha de S. Paulo
Desistência de Joaquim Barbosa mostra que o sistema não é muito amigável para neófitos
Joaquim Barbosa anunciou que não será candidato. Ele era forte em termos de potencial eleitoral, mas bem mais fraco quando se olha pelo lado da governabilidade. Tremo só de pensar em como seriam as negociações entre uma personalidade incisiva como a dele e um Congresso fragmentado e oportunista como o nosso.
Se já pareceu que o pleito deste ano favoreceria o novo na política, vão se acumulando sinais de que as forças da inércia são poderosas. A desistência de Barbosa, que se segue à de Luciano Huck, mostra que o sistema não é muito amigável para neófitos.
Vão sobrando, então, velhos conhecidos como Marina, Ciro, Alckmin. Bolsonaro tenta vestir-se de novo, mas não dá para esquecer que ele cumpre seu sétimo mandato de deputado federal.
Se precedentes valem algo, tivemos, em agosto passado, já no clima distópico do pós-Lava Jato, uma eleição suplementar no Amazonas. Foram ao segundo turno Amazonino Mendes (PDT) e Eduardo Braga (PMDB) e o pedetista sagrou-se vitorioso. É difícil imaginar um quadro mais “statu quo” do que este.
Não parece, assim, absurdo prognosticar para o pleito presidencial um cenário em que um candidato da chamada esquerda enfrentará um mais ao centro no segundo turno. A dúvida é se ainda serão os representantes do PT e do PSDB que ocuparão as vagas, como vem ocorrendo há mais de duas décadas.
A relutância do PT em apontar logo um substituto para Lula poderá custar-lhe caro. Ciro ou Marina seriam os beneficiários dessa obstinação. Os tucanos precisam manter Alckmin vivo até o início da campanha na TV, quando poderá crescer. Estrutura partidária vale algo.
Minha hipótese, claro, é a de que Bolsonaro murcha até lá. Se não murchar, o candidato que tiver a sorte de passar para o segundo turno para enfrenta-lo estará com a faca e o queijo na mão. Extremistas tendem a ser rejeitados.
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