Por Raphael Di Cunto, Rodrigo Carro e Vandson Lima | Valor Econômico
BRASÍLIA E RIO - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ontem que, embora seu partido tenha maior afinidade ideológica com o pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, seria mais fácil compor palanques regionais com Ciro Gomes (PDT). "Nos palanques regionais temos mais afinidade com o Ciro Gomes. Na área econômica, o Ciro faz, do meu ponto de vista, um pouquinho do que o ex-prefeito Cesar Maia fazia no Rio, só que de maneira invertida: vocalizava para a direita e governava para a esquerda", afirmou.
Nos quatro principais Estados onde o DEM tem esperanças de eleger o governador, os candidatos negociam alianças com o PDT de Ciro e veem Alckmin subir no palanque de adversários. Em Goiás, o senador Ronaldo Caiado (DEM) lidera as pesquisas e ofereceu a vice aos pedetistas. Já o tucano apoiará a reeleição do governador José Eliton (PSDB).
No Rio de Janeiro, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) cogita dar a vice ao PDT enquanto o PSDB caminha para apoiar o deputado federal Índio da Costa (PSD). Em Minas, Alckmin faz campanha pelo senador Antonio Anastasia (PSDB) contra o deputado federal Rodrigo Pacheco (DEM) - que, numa composição com Ciro, poderia ainda retirar Marcio Lacerda (PSB) da disputa e receber o apoio de PDT, Pros e PSB. No Mato Grosso, o ex-prefeito Mauro Mendes (DEM) concorrerá, com apoio do PDT, contra o governador Pedro Taques (PSDB).
No Rio Grande do Norte, terra do senador José Agripino, ex-presidente do DEM, a situação é inversa e é a sigla que apoia o PDT ao governo, e no Ceará estão todos juntos na reeleição do governador do PT, aliado dos Ferreira Gomes. A exceção é o Amapá, onde o senador David Alcolumbre (DEM) será adversário do governador Waldez Góes (PDT).
Há, claro, alianças entre DEM e PSDB: estão juntos, por exemplo, em São Paulo e na Bahia. Entre os baianos, contudo, cresce a avaliação de que, por ser do Nordeste, Ciro terá maior capacidade de atrair votos que o tucano.
"O projeto natural é que a gente caminhe com o PSDB", afirmou Maia, após participar de evento no Rio de Janeiro, para depois fazer uma ressalva. "Se a minha decisão for mesmo não disputar a eleição [presidencial], a prioridade passa a ser as eleições de governador", pontuou.
As cúpulas de DEM, PP, SD e PRB, que negociam juntos o apoio a um presidenciável com a intenção de ter mais peso na campanha e no futuro governo, dizem que a definição ocorrerá entre 16 e 22 de julho, mas voltarão a se encontrar na quarta-feira para um balanço do cenário eleitoral e das conversas que tiveram com Ciro, Alckmin e Alvaro Dias (Podemos) - que, por estar num partido bem menor, tem menos a oferecer regionalmente.
Não há hoje um favorito de todo esse grupo. Ciro tem a preferência dos presidentes do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), e do SD, o deputado Paulinho da Força (SP). O DEM está dividido. O PRB está mais próximo de Alckmin, mas também avalia insistir num candidato próprio, o empresário Flávio Rocha, dono da Riachuelo.
O tucano, que já tinha se reunido individualmente com os presidentes desses partidos, foi o último dos presidenciáveis a jantar com o grupo e não empolgou ninguém, segundo relatos. As pesquisas nas mãos dessas siglas indicam dificuldades eleitorais, como ele não liderar nem em São Paulo, que governou por quatro mandatos, o desgaste do PSDB nacionalmente e uma resistência da população a seu perfil. É com base nessas avaliações que o DEM passou a cogitar apoiar Ciro.
Alckmin defende que, com apoio desses partidos e dos outros que já estariam apalavrados (PTB, PSD, PV e PPS), teria o maior tempo de propaganda na TV e poderia mostrar que é candidato, o que não seria conhecido nem pelos eleitores paulistas. É na TV, também, que ele se colocará como o nome com mais chances de vencer o PT, numa tentativa de desconstruir o líder nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que tem apenas 8 segundos de publicidade e aposta nas redes sociais.
Já para a maioria do Centrão, não há garantia de que essa estratégia funcionará. As pesquisas hoje indicam que a polarização não é mais com o PT, mas com o governo Temer, e que, embora a população queira alguém de "centro", capaz de unir o país, o tucano é muito identificado com a mesma agenda e perfil do atual presidente.
"O status atual é o mesmo das outras semanas. Existem preferências, mas não existem decisões tomadas", afirmou o presidente do PRB, Marcos Pereira. Mesmo em 2014, quando o cenário eleitoral era bem mais claro, as decisões ficaram para o fim do período de convenções partidárias, que este ano ocorrerão entre 20 de julho e 5 de agosto. É bem provável, alertam políticos, que isso se repita, a espera de que as outras legendas se movimentem e fique mais claro quem são os candidatos favoritos.
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