General Villas Bôas compara a situação do Brasil hoje à divisão da sociedade na ‘Guerra Fria’
Adriana Ferraz | O Estado de S. Paulo.
O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, afirmou ontem que a “sociedade brasileira criou ambiente para fatos lamentáveis”, como as mortes do soldado Mário Kozel Filho e do jornalista Vladimir Herzog durante o regime militar. A declaração foi dada em São Paulo após o general presidir uma cerimônia em homenagem ao militar, morto há 50 anos durante a explosão de um carro-bomba em atentado pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
O ato se deu um dia depois de a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenar o Brasil pelo assassinato de Herzog, em 1975. Para Villas Bôas, o momento do País exige “recuperação da coesão nacional”.
O general afirmou que o contexto em que ambas as mortes ocorreram deve receber uma análise comparativa com o momento que vivemos hoje. De acordo com o general, o Brasil permitiu no passado que a “linha de confrontação da Guerra Fria dividisse a nossa sociedade”, provocando casos como o de Kozel e Herzog. “E, hoje, o momento é de linhas de fratura, o que exige a recuperação de uma coesão nacional, o restabelecimento de uma ideologia de desenvolvimento e um sentido de projeto, para que as gerações futuras não venham a passar o que ocorreu há 50 anos.”
No discurso que fez durante a cerimônia de homenagem a Kozel, o comandante do Exército disse que o cenário atual recomenda aos brasileiros e às instituições a “prudência nos ânimos” e união dos esforços para construir o futuro. Ele criticou o que chamou de “ideologias contemporâneas” e afirmou que a “fratura da sociedade, ocorrida no período militar, é uma “experiência para ser lembrada”.
Para Villas Bôas, o Brasil está na iminência de algo muito grave: a perda de sua identidade. “A consequência disso seria um País à deriva. E isso não pode acontecer. Um País com o potencial do Brasil, que tem um papel muito importante a cumprir no mundo. Então, acho que é assim que temos de entender esses eventos, tanto a morte de Kozel como de Herzog.”
Ao citar os casos, Villas Bôas disse que gostaria que a família do soldado morto aos 18 anos recebesse os mesmos direitos e atenções, em referência à decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
O comandante do Exército voltou a descartar qualquer possibilidade de uma intervenção militar no País. “Quem interpreta que o Exército pode intervir é porque não conhece as Forças Armadas e a determinação democrática, de espírito democrático, que reina e preside em todos os quartéis.”
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