Representantes do Centrão externaram preocupações em relação aos baixos índices de intenção de voto no tucano
Vera Rosa | O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Sob o argumento de que o desgaste do PSDB após a Lava Jato atrapalha as alianças, dirigentes do bloco formado por DEM, PP, PRB, Solidariedade e PSC indicaram na noite desta quarta-feira, 4, ao pré-candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, que estão mais inclinados a apoiar Ciro Gomes (PDT) na campanha eleitoral.
Embora muitos nomes do chamado Centrão também sejam investigados pela Lava Jato, a explicação dada a Alckmin para a falta de entusiasmo do grupo com sua campanha foi a de que o PSDB amarga índices de rejeição maiores do que os do PT. Além disso, nas três horas de conversa, presidentes dos partidos que compõem o bloco mostraram preocupação com o imobilismo do ex-governador de São Paulo, que preside o PSDB, nas pesquisas de intenção de voto. Até agora, Alckmin apresenta índices que variam de 4% a 6% das preferências.
Em jantar na sede do PRB, deputados e senadores do Centrão -- já rebatizado de "blocão" -- fizeram uma espécie de sabatina com Alckmin. Perguntaram a ele, por exemplo, sobre a possibilidade de substituição de seu nome na chapa pelo do ex-prefeito João Doria, hoje pré-candidato do PSDB ao Palácio dos Bandeirantes. Lembraram que há articulações para isso nos bastidores, dentro do seu próprio partido, com a simpatia do Palácio do Planalto e da cúpula do MDB.
Alckmin assegurou não haver hipótese de troca do candidato, mas não escondeu a contrariedade com esse movimento. Disse já ter apoio de quatro partidos (PTB, PSD, PPS e PV) e demonstrou confiança em seu crescimento quando se iniciar o horário eleitoral gratuito. “A campanha começa em 31 de agosto, com a propaganda na TV e no rádio. Tem gente que ainda acha que sou governador de São Paulo”, afirmou ele.
Recém-saída do forno, uma pesquisa do DEM apresentada no encontro serviu de munição para os que já pareciam decididos a não chancelar o tucano, como o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI). De acordo com o levantamento, a rejeição de Alckmin aumentou por causa do PSDB e seu desempenho está aquém das expectativas até mesmo em São Paulo, Estado que ele administrou por quase 14 anos e maior colégio eleitoral do País.
Estratégia. Os interlocutores do ex-governador quiseram saber qual seria a estratégia para resolver esse problema, considerado intransponível em curto espaço de tempo. “Nós expusemos todas as nossas preocupações, sem vetos nem embargos”, resumiu o presidente do DEM, ACM Neto, que também é prefeito de Salvador.
Alckmin respondeu que um amplo arco de alianças fará diferença na disputa. Disse que formou a melhor equipe e reiterou estar disposto a integrar todos na campanha e num eventual governo. Acenou até mesmo com a possibilidade de ter um vice do Centrão em sua chapa. Até agora, já foram cogitados para a vaga os ex-ministros Aldo Rebelo, pré-candidato à Presidência pelo Solidariedade; Mendonça Filho (DEM-PE), hoje deputado, e a senadora Ana Amélia (PP-RS).
De todos os representantes do bloco, porém, apenas o presidente do PRB, Marcos Pereira – ex-ministro da Indústria e Comércio Exterior do governo de Michel Temer ¬– demonstrou interesse na composição com Alckmin. Atualmente, o pré-candidato do PRB ao Planalto é o empresário Flávio Rocha, que em muitas pesquisas nem sequer aparece.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou no fim do jantar porque comandava a votação do texto-base do projeto que destrava a venda de distribuidoras da Eletrobras. Mesmo assim, expôs com todas as letras as dificuldades que vê para o casamento com o PSDB. Cobrou, ainda, o apoio dos tucanos a candidatos do DEM em outros Estados, como o Rio. Maia também engrossava a lista dos postulantes ao Planalto, mas já avisou que sairá do páreo em poucos dias. Ele concorrerá a mais um mandato de deputado e pretende ocupar novamente a presidência da Câmara, a partir de 2019, com o aval do Centrão.
O bloco marcou novo encontro para a próxima quarta-feira, 11, com o objetivo de verificar se já foram resolvidas as pendências para a escolha do candidato à Presidência. A ideia é anunciar quem o grupo apoiará até no máximo dia 20. Embora a cúpula do DEM dê sinais de adesão à campanha de Ciro Gomes, a maioria da bancada do partido na Câmara ainda prefere Alckmin. O deputado Rodrigo Garcia (SP), líder do DEM e ex-secretário de Alckmin, deve ser vice na chapa de Doria ao governo paulista e é um dos maiores defensores da união nacional entre as duas siglas.
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