Por Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - O atentado contra o deputado Jair Bolsonaro, atingido por uma facada em uma atividade de campanha em Juiz de Fora (MG), quinta-feira, mudou o eixo da eleição presidencial. Passado o impacto do primeiro momento, as aferições feitas pelas demais campanhas indicam que o candidato do PSL deve subir entre três e cinco pontos na pesquisa a ser divulgada hoje pelo Datafolha. É um crescimento significativo, mas não o bastante para levá-lo à vitória no primeiro turno - o que é o maior temor de seus adversários. Na disputa pela segunda vaga, o candidato mais ameaçado é Geraldo Alckmin, do PSDB, que assina as principais peça de desconstrução de Bolsonaro na propaganda eleitoral do rádio e TV.
O monitoramento das campanhas, no entanto, ao mesmo tempo em que detectou o crescimento de Bolsonaro, indica estabilidade de Geraldo Alckmin, Marina Silva (Rede Sustentabilidade) e Ciro Gomes (PDT). O candidato do PT, Fernando Haddad, deve ainda aparecer atrás dos candidatos do PSDB, Rede e PDT, na pesquisa Datafolha. Mas em curva ascendente. A disputa pela segunda vaga segue indefinida, mas as ações de Haddad estão em alta no circuito Congresso - Palácio do Planalto - principalmente se o PT definir logo a situação sobre quem será o seu candidato, o que Lula tenta adiar para o dia 17.
A mudança no eixo da campanha se dá justamente porque agora o que está em jogo é a segunda vaga, salvo eventual reversão de expectativas por erro de Bolsonaro ou fatos novos. À primeira vista, os estrategistas das campanhas avaliam que é contraproducente bater em Bolsonaro. A dúvida é se os quatro vão bater um nos outros, numa disputa autofágica. O PT de Haddad já não investia contra Bolsonaro, preferindo se concentrar no PSDB, seu mais tradicional adversário. Ameaçado, Alckmin mantém Bolsonaro na mira, mas deve aprofundar os ataques ao PT. Uma das novas peças diz que Haddad não é Lula, como diz a propaganda do PT. "É Dilma, é Haddad", afirma.
Nesta nova fase, Haddad é o alvo de Alckmin mas também de Bolsonaro, cujas peças para as redes sociais - o tempo do candidato na TV é ínfimo - vão desde a vitimização ao antipetismo e ao "sistema" que juntaria mídia, judiciário, o Congresso, o Palácio do Planalto e os partidos políticos contra sua candidatura. As campanhas, inclusive a de Bolsonaro, avaliam que o atentado da rua Halfeld, cometido por Adélio Bispo de Oliveira, um ex-filiado ao PSol que foi preso imediatamente, não terá o impacto que teve a morte de Eduardo Campos junto ao eleitorado, suficiente para catapultar Marina Silva para o topo das pesquisas. Mas ao contrário de Campos, o candidato Bolsonaro tem rua e uma militância disposta a tirar o maior proveito possivel do ataque que provocou uma cirurgia de emergência na Santa Casa de Juiz de Fora, mesmo com o parlamentar imobilizado em um leito do Hospital Albert Einstein (SP), para onde foi transferido.
Se o atentado cristalizar a votação em Bolsonaro, o maior prejudicado também será Geraldo Alckmin, pois sua estratégia tentava recuperar os votos dos tucanos que migraram para o candidato do PSL, especialmente nas regiões Sul, Centro Oeste e no Estado de São Paulo, que sempre votaram com o PSDB. A estratégia de Alckmin visava atrair o voto útil para o candidato em condições de derrotar Bolsonaro ou o PT no segundo turno. Nas simulações feitas semana passada pelo Ibope, Alckmin tinha nove pontos de frente sobre Bolsonaro, mas Marina tinha dez e Ciro Gomes, onze. Ambos podem ser os beneficiários do voto útil.
O maior temor das campanhas adversárias é que Bolsonaro tenha conseguido reduzir significativamente a rejeição a seu nome, medida pelo Ibope, antes do atentado, em 44% - um índice que dificilmente o levaria à Presidência da República. Se a redução for significativa, o candidato pode começar a pensar até em se eleger no primeiro turno. Mas Bolsonaro também precisa não errar mais. A foto simulando empunhar uma arma, feita no quarto do hospital, é vista como um erro, pois Bolsonaro continua provocativo enquanto todos os demais baixaram a guarda. Ninguém esquece que Marina estava no segundo turno da eleição de 2014, até 48 horas antes do pleito, mas foi desconstruída pelo PT e por seus próprios erros.
Pela primeira vez, desde 1994, o PSDB pode ficar fora do segundo turno da eleição. O desafio de Alckmin é manter o fogo sobre o PSL e já incluir a esquerda como outro foco da intolerância - "não é na bala nem na faca que vamos construir uma nação", diz o novo slogan na TV. A quatro semanas do primeiro turno, o candidato do PSDB está dividido em diversas frentes. Além de Bolsonaro e o PT, a vice Ana Amélia deve ganhar destaque na propaganda, numa tentativa de atrair o voto feminino, o mais resistente a Bolsonaro.
A investigação da polícia também pode repercutir na reta final da campanha. A localização de quatro telefones celulares e de um computador na pensão onde morava Adélio Bispo acenderam uma luz de alerta entre policiais - a investigação deve enveredar sobre a hipótese de que alguém guiou sua movimentação.
Um comentário:
Valor é Globo; Valor é Bolsonaro. O artigo, portanto, é idiota mas tem objetivo.
É cafajeste e errou tudo.
MAM
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