Polícia e MP investigam se membros da quadrilha estão envolvidos nos assassinatos de Marielle e Anderson
A operação realizada pelo Ministério Público estadual e pela Polícia Civil, na madrugada de terça-feira, para cumprir 93 mandados de prisão contra milicianos, não é a primeira —e certamente não será a última — com o objetivo de combater este mal que se espalhou como metástase por praticamente todas as regiões do estado. Mas não parece haver dúvidas de que, desta vez, o golpe foi desferido no coração das quadrilhas, como mostrou ontem reportagem do GLOBO. Batizada com o sugestivo nome de Os Intocáveis, numa referência à saga da equipe de Eliot Ness para prender Al Capone na Chicago dos anos 1930, a ação teve como alvo as comunidades de Rio das Pedras — berço das milícias — e da Muzema, na Zona Oeste. E resultou na prisão de alguns dos principais chefes da organização criminosa.
Entre os presos, está o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira, apontado como o número 2 da quadrilha. Ele já é réu num processo sobre o assassinato de quatro jovens na Baixada Fluminense. Deve ir a júri popular em abril. Segundo as investigações, Ronald integra o chamado Escritório do Crime, um consórcio de matadores de aluguel que presta serviços para contraventores e outros fora da lei. A polícia suspeita que os assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, foram obra do tal escritório e apura se Ronald teve participação no crime que chocou o país em março do ano passado. Já o cabeça da quadrilha, o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, está foragido.
Rio das Pedras, uma das maiores favelas da cidade, serviu de laboratório para a atuação desses grupos paramilitares. Formados inicialmente por servidores ou ex-agentes do Estado, como policiais e bombeiros, eles surgiram sob o pretexto de impedir que o tráfico se instalasse. Balela. O tempo mostrou que os métodos dos milicianos eram tão perversos quanto os dos traficantes. Na ausência do Estado, implantaram um poder paralelo, criaram seus próprios “tribunais” e passaram a cobrar por segurança, transporte, gás, TV a cabo, internet etc. Hoje, atuam também na grilagem de áreas públicas e privadas e controlam o mercado de construção nessas regiões.
Dificuldade adicional no enfrentamento das milícias é o fato de elas, por sua natureza, estarem infiltradas em instituições do Estado, como Câmaras de Vereadores, Assembleia Legislativa, e em órgãos do Executivo.
Criminosos disfarçados de cidadãos de bem. Por isso, o combate a essas quadrilhas precisa ser sistemático. E objetivo, como mostrou a última operação. Não se pode mesmo achar que esses bandidos são intocáveis.
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