terça-feira, 23 de julho de 2019

Ricardo Noblat: Sujeito errado

- Blog do Noblat / Veja

Com vocês, o presidente da República Federativa do Brasil

A reconhecida ignorância do presidente Jair Bolsonaro no trato dos maiores problemas do país tem uma vantagem para ele: pode recuar do que disse ou decidiu com facilidade, e cara de pau.

Quem lhe deu o voto sabia do seu despreparo, mas não ligou. Era a prova para eles de que Bolsonaro era um estranho no ninho de políticos corruptos. Melhor que fosse ele a qualquer outro.

Confrontados com declarações bizarras do candidato ou simplesmente sem pé nem cabeça, os devotos do capitão achavam graça e rebatiam condescendentes: exageros dele. O Mito é assim.

Por isso não se chocam nem se envergonham quando Bolsonaro, num dia, se refere aos nordestinos como aqueles “paraíbas”, e, no outro, os chama de “irmãos” e jura que não quis ofendê-los.

Nem se chocam ou se envergonham quando Bolsonaro chama de comunista um general que foi um dos maiores amigos no passado do mais bárbaro torturador da ditadura militar de 64.

Está tudo bom, tudo muito bem, e o capitão pode seguir na mesma toada. No fim de semana, pôs em dúvida a correção dos dados sobre desmatamento no Brasil. Ontem, arrependeu-se do que fez.

É razoável que Bolsonaro não queira ser surpreendido com a revelação de dados que possam aumentar o que ele classifica de “psicose” ambiental que assola outros países, o Brasil não.

Mas do mesmo modo seria razoável que ele se informasse antes a respeito do que o preocupa. Então ficaria sabendo que o governo recebe os dados com antecedência, podendo questioná-los.

Se o ridículo não o incomoda, à imagem do país causa grave dano. Imaginem se canais internacionais de notícias atentassem para o espetáculo que Bolsonaro oferece toda quinta-feira no Facebook:

“Com vocês, o presidente da República Federativa do Brasil”.

Do último, até ele pareceu se envergonhar. Estava mais para presidente de uma República de Bananas. Isso nada tem a ver com boa ou má comunicação de governo, mas com o sujeito em tela.

O novo alvo do Zero Dois

Complô para fuzilar mais um general
Poderia ter sido um tiro acidental ou esparso o dado no último fim de semana pelo garoto Carlos Bolsonaro, o Zero Dois, no porta-voz da presidência da República, o general Rêgo Barros.

Mas não foi – e ontem, mais tiros o garoto disparou no general que, a exemplo de outros abatidos por Carlos, preferiu não ligar. Ou dizer que continua prestigiado pelo capitão.

Na verdade, trata-se de mais uma batalha da guerra pelo controle da área de comunicação do governo que já produziu duas vítimas ilustres: os ex-ministros Gustavo Bebianno e Santos Cruz.

Não foi difícil derrubar Bebianno, ex-presidente do PSL durante a campanha eleitoral do ano passado, e advogado particular de Bolsonaro. Mais difícil foi derrubar o general Santos Cruz.

O atual secretário especial de Comunicação Social, Fabio Wajngarten, fez parte do pelotão de fuzilamento dos dois ministros. E faz parte do pelotão que tenta fuzilar Rêgo Barros.

Militar fora de quartel e em terreno desconhecido é presa fácil para seus inimigos por mais que tenha aprendido a enfrentar a guerra de guerrilhas. Tanto mais quando é traído pelo chefe.

Bolsonaro revelou há dois meses como gosta de livrar-se de auxiliares. Não há originalidade no método. A originalidade está na confissão feita com a maior naturalidade. O capitão é perverso.

É preciso, primeiro, desgastar o candidato à rua. Criam-se, assim, as condições para que seja demitido. Em outras palavras: destrói-se a reputação, para em seguida destruir-se o pobre coitado.

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