Turbulência que pode se equiparar à de 2008 força Bolsonaro a acabar com a letargia diante das mudanças
O Brasil com Jair Bolsonaro no Planalto enfrenta uma turbulência financeira mundial com todas as características para rivalizar com a crise deflagrada em 2008, a partir do desmoronamento do sistema financeiro americano causado por enorme bolha especulativa no mercado de hipotecas, e que levou o mundo à recessão.
Ainda é cedo para prognósticos seguros, mas a queda profunda das bolsas ao redor do planeta, à medida que os mercados abriam no Oriente, na noite de domingo e madrugada de ontem — um movimento em série que invadiu o Ocidente, contaminando Europa e Américas —, coloca o presidente da Republica diante de tarefas urgentes. Mercados tiveram quedas recordes, forçando o acionamento de freios (“circuit breakes”) que suspendem o pregão por um determinado tempo, para evitar um pânico maior. Aconteceu em Wall Street, que fechou com uma queda de 7,6%, no pior dia desde dezembro de 2008; e no Brasil (Ibovespa), onde as ações mergulharam 12,17%, pior resultado diário neste século.
Ainda na noite de domingo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, divulgou pelo Twitter uma correta conclamação a que os poderes da República atuem com harmonia e espírito democrático, para que a crise vire uma “oportunidade de se somar forças em busca das soluções necessárias e urgentes”. Maia garantiu que “o Congresso está pronto para avançar com as reformas capazes de restabelecer a confiança”.
Recado direto para Bolsonaro enviar enfim ao Legislativo a reforma administrativa e as propostas de mudanças tributárias, a se somarem aos dois projetos que já tramitam no Congresso. O ministro da Economia, Paulo Guedes, também deseja pressa.
Em vez de se dedicar à luta política, o presidente precisa agir de forma coordenada com os demais poderes, no acertado entendimento de Maia. Necessidade idêntica é colocada à frente de países. Em 2008/9, a atuação do Banco Central americano, Fed, com Ben Bernanke na direção-geral, tornou-se decisiva no combate às fortes pressões recessivas. Os juros foram praticamente zerados. Com este instrumento fora de combate, logo o Fed começou a emitir dinheiro por meio da compra, em grandes quantidades, de títulos encalhados nas carteiras privadas, pelo programa batizado de “quantitative easing”, afrouxamento monetário. Bancos faliram, mas não houve uma quebradeira. Os BCs europeus seguiram a cartilha.
Mais uma vez as taxas de juros no planeta estão muito baixas. Novamente será necessário acionar outros mecanismos. A boa experiência na crise iniciada em 2008 é uma vantagem que o mundo tem. Pode-se chamar de “tempestade perfeita” a conjugação dos efeitos do coronavírus na economia mundial, devido à paralisação de cadeias globais de produção provocada pelo fechamento de fábricas de componentes na China, com a decisão da Arábia Saudita de fazer desabar em cerca de 30% a cotação internacional do petróleo, numa desavença sobre cortes na produção com a Rússia. Turbina a crise do coronavírus.
Altas doses de incertezas foram injetadas nos mercados, e o resultado transpareceu nas bolsas. É grande a pressão sobre qualquer governo no aprofundamento de uma crise com essas proporções. Momento de Bolsonaro passar a governar de fato.
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