Mercados
foram tomados por onda de forte aversão ao risco sob cenário de incertezas
Nesta
quarta-feira, os mercados financeiros foram invadidos por onda de forte aversão
ao risco. É como se todos os bichos da floresta fugissem para suas tocas.
Veio
abaixo até mesmo o mercado do ouro, multissecular porto seguro em meio a
quaisquer turbulências. A onça-troy (equivalente a 31,1 gramas) chegou a cair
2,04% e fechou em baixa de 1,65%. O único ativo que continua inspirando
segurança é o dólar.
Os gráficos apresentam quanto caíram algumas das principais bolsas de valores e qual foi, nesta quarta-feira, a trajetória do dólar em relação ao real, ao rand sul-africano, ao euro e ao iene.
O
alarme foi disparado pelo novo toque de
recolher (lockdown) parcial na Alemanha e na França,
decretado para enfrentar a nova onda da covid-19. Por mais
paradoxal que pareça, a principal diferença entre esta recaída e o início da
pandemia ainda não está disponível. Trata-se da vacina. Mesmo as que estão em
fase final de testes ainda precisarão de tempo para produção e para
distribuição. Mas não estão mais no ponto zero, como em fevereiro e março,
quando os pesquisadores ainda não conheciam o inimigo.
Por
esse ponto de vista, contra essa aversão ao risco há um limitador importante.
Chegada a vacina, não haverá mais necessidade de medidas drásticas, mas, nesta
quarta-feira, ninguém levou isso em conta.
Outra
fonte de incerteza extrapola o campo sanitário. É a das eleições nos Estados Unidos. Por mais
bem elaboradas que sejam, as pesquisas nem sempre preveem corretamente os
resultados. E se há alguma probabilidade de que a voz das urnas seja submetida
à decisão judicial, como pode ser desta vez, então fica inevitável a
disseminação de ansiedades, que acabam passando para o preço dos ativos.
Afora
esses males globais, há os específicos do Brasil. E aqui estão dois deles: o
impacto da inflação e as mazelas das contas públicas.
A
prévia do IPCA (que
é o mesmo índice mensal, mas medido a partir de cada dia 15) mostrou uma esticada de
0,94% neste mês de outubro. Não é uma inflação que preocupa,
porque é o resultado de desencontros episódicos de contas.
A
pandemia interferiu nos fluxos econômicos. A paradeira que se seguiu ao
confinamento das famílias derrubou o consumo e desorganizou as redes de
produção e distribuição. Depois, veio a distribuição do auxílio emergencial,
que aumentou repentinamente o consumo de alimentos e de materiais de construção
num mercado semiabastecido. O afrouxamento dos esquemas de confinamento, por
sua vez, voltou a acionar o consumo e pegou muitas empresas desprovidas de
matérias-primas para a retomada.
Esses
descasamentos nas redes de suprimentos produziram uma inflação momentânea que
tende a perder força à medida que a vida econômica se normalizar.
Questão
mais grave e ainda sem resposta é a do agravamento da situação das contas
públicas. A dívida vai para 100% do PIB, os juros de longo prazo embutidos nos
negócios de revenda de títulos públicos voltaram a embicar para cima, o que
demonstra preocupação crescente com a capacidade de solvência do Tesouro. O
governo permanece calado sobre como pretende enfrentar essa encrenca. Mas,
passadas as eleições municipais, ficarão inevitáveis a edição de mais um saco
de maldades para tentar contê-la e de mais movimentos novos que encaminhem as
reformas. Se não vierem, o dólar tenderá a disparar e a alta dos importados
contaminará a inflação.
Em sua reunião desta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) deu mais importância à deterioração do quadro fiscal do que ao repique da inflação, como ficou claro no seu comunicado.
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