Decreto mostra que Bolsonaro prefere assinar primeiro e perguntar depois
Em
outubro do ano passado, Jair Bolsonaro editou um decreto que abria caminho para
vender a operação da Casa da Moeda. A empresa era uma das
prioridades na lista de privatizações do governo, mas o plano não
saiu do papel. Depois de assinar a medida, o próprio presidente reclamou da
proposta.
“Queriam
privatizar a Casa da Moeda. Aí, o pessoal fala, eu interferi”, disse Bolsonaro,
há poucas semanas. “Eu achei que não era o caso, tendo em vista informações que
eu tive de outros países que privatizaram e depois voltaram atrás.”
Bolsonaro
pode até dizer que considera a venda da estatal uma má ideia. Mas ele também
poderia explicar por que saíram do gabinete presidencial dois documentos que
abriam caminho para a privatização: aquele texto de outubro e uma medida
provisória que quebrava o monopólio da empresa, no mês seguinte.
A
desordem se repetiu agora, com o decreto do governo que incluiu as unidades
básicas de saúde num programa de parcerias com a iniciativa privada. O
documento assinado pelo presidente foi publicado na última terça (27) e revogado
um dia depois.
Dessa
vez, Bolsonaro não criticou a própria decisão. Ele afirmou que aquele não seria
um movimento de privatização do SUS e que o objetivo era concluir obras e
permitir que os cidadãos fossem atendidos na rede privada. Mas resolveu revogar
a medida e prometeu reeditar o decreto “em havendo entendimento futuro dos
benefícios propostos”.
O
presidente mostrou mais uma vez que prefere assinar primeiro e perguntar
depois. Em vez de discutir os tais “benefícios propostos” com gestores do
Sistema Único de Saúde, o governo se apressou. Caso ninguém
tivesse percebido, o decreto teria continuado de pé.
A equipe econômica entregaria até as emas do Palácio da Alvorada à iniciativa privada, se pudesse. O presidente endossou essa agenda na campanha, mas parece não conhecer os planos de seus subordinados ou não tem coragem de bancá-los. Bolsonaro governa por acidente.
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