Números
gerais não permitem descartar um recrudescimento da epidemia por aqui
A
segunda onda da epidemia nos grandes países da Europa ficou evidente na mesma
data: começo de setembro. É quando acabam as férias de verão. Foi então que o número
de mortes começou a aumentar de modo inegável. Em meados de
outubro houve a disparada. Em países como Alemanha, Espanha, França, Itália e
Reino Unido, as taxas mínimas de morte haviam ocorrido em julho, mais ou menos.
O
número diário de novas mortes por milhão anda entre 2,5 e 3,5 nesses países,
com exceção da Alemanha, onde está por volta de 0,5 por milhão (média móvel de
sete dias). No Brasil, o morticínio
agora está perto de pouco mais 2 novas mortes por milhão, em
queda lenta, faz algum tempo. No pico da mortandade nesses países europeus, a
taxa diária de mortes por milhão ficou em torno de 15 (com exceção, outra vez,
da Alemanha (que chegou perto de 3).
É
um alerta para o Brasil? Sempre é. Aprendeu-se que a epidemia é, até certo
ponto e tempo, regional, o que é um aspecto muito significativo em um país do
tamanho e população como o nosso. Ainda assim, convém dar uma olhada em
estatísticas mais gerais, ao menos para dar a escola de grandeza do problema.
O
número de mortes pode ser um indicador aproximado do tamanho da epidemia, do
número total de infectados. Sim, existe grande controvérsia sobre a letalidade
da doença. Isto é, quantas pessoas morrem entre aquelas que foram infectadas.
Como se tornou evidente, as pesquisas na população têm dificuldade de estimar o
número total de infectados. Logo, a taxa de letalidade da doença é motivo de
polêmica.
Suponha-se
que ela seja aproximadamente igual e que se leve em conta as diferenças
demográficas (a Covid mata mais os idosos. Tudo mais constante, países com mais
idosos terão mais mortes). A taxa de mortes por milhão no Brasil é maior do que
a da Espanha, o país grande da Europa mais afetado. A do estado de São Paulo é
ainda maior. Levando em conta a idade da população, a diferença aumenta.
A
taxa de mortes do estado de São Paulo, sem qualquer ajuste, é de 866 por
milhão. A da Espanha, 755. A julgar apenas pelo número de mortes e pela
hipótese de que certo número de mortes esteja associado a uma taxa de infecção,
seria possível especular que um recrudescimento da epidemia não pode ser
descartado por aqui. O estado de São Paulo ainda conta 2 mortes diárias por
milhão. A Espanha da segunda onda conta 3,3.
Nem
de longe, claro, é prognóstico. Em meses de conversas com excelentes
epidemiologistas do Brasil, muito cientista dedicado observou que levou dribles
e outros bailes da epidemia. O que todos dizem é que não dá para relaxar, que
cada medida de alívio das restrições tem de ser muito bem fundamentada, que
aglomerações são insanidades, que se deve usar máscara, que é preciso fazer
mais testes e tentar encurralar a doença.
A
nova onda europeia ainda está longe de ser tão mortífera quanto em abril. Mas a
mortandade afeta o mundo inteiro pela economia, é preciso e horroroso dizer. A
percepção de riscos aumentados e a incerteza vão ecoar pelo mundo, como
se viu nos
mercados financeiros desta quarta-feira, e a segunda onda vai atingir
a atividade econômica em alguma medida. Alemanha
e França vão ter isolamentos duros durante novembro inteiro.
Os alertas estão aí. O controle da epidemia no Brasil foi vergonhoso; o governo federal não se ocupa nem ao menos do manual básico da economia. Estamos sem imunidade na política sanitária e na econômica.
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