Marcha
soldado, cabeça de papel
Bolsonaro nada aprendeu em 30 anos de vida pública. Em compensação, nada esqueceu. De duas, uma. A inclusão das unidades básicas de saúde num programa de parcerias com a iniciativa privada era uma boa ideia, e por isso ele assinou o decreto publicado, anteontem, no Diário Oficial. Ou então era uma má ideia, e por isso ele revogou o decreto 24 horas depois.
Algo
semelhante aconteceu na semana passada quando Bolsonaro disse que a vacina
chinesa contra a Covid-19 jamais seria comprada. Foi uma humilhação para o
general Eduardo Pazuello, ministro da Saúde, especialista em logística, que
anunciara a compra da vacina. Mas, em seguida, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária desautorizou Bolsonaro, e ele calou-se.
O
ator Ronald Reagan foi um dos presidentes mais aclamados da história dos
Estados Unidos. Detestava pegar no pesado. Não gostava de governar. Entendia de
poucas coisas. Soube cercar-se, porém, de auxiliares competentes. Bolsonaro é
quase tão ignorante quanto Reagan. Pegar no pesado não é com ele. Gosta do
poder, de governar, não. Cercou-se de auxiliares incompetentes.
Onde
já se viu assinar um decreto de tal importância, que necessariamente alcançaria
larga repercussão como era fácil de prever, sem antes discuti-lo com os mais
diretamente interessados e também com representantes do distinto público? Por
unanimidade, os secretários estaduais de Saúde rechaçaram o decreto. O
distinto público matou-o a pau sem dó nem piedade.
O
movimento nas mídias sociais em defesa do Sistema Único de Saúde registrou a
maior repercussão negativa via Twitter de uma medida do governo Bolsonaro desde
janeiro de 2019. Dados levantados pela consultoria Arquimedes registram
que 98,5% das menções feitas sobre o tema foram desfavoráveis ao decreto.
A consultoria analisou mais de 150 mil referências.
Se
não liga para o que lhe diz o ministro da Saúde, Bolsonaro liga em demasia para
o que lê nas redes. Ali, estava acostumado a ver suas decisões aprovadas sem
grandes discussões. De uns tempos para cá, parte delas passou a ser rejeitada.
Foi o caso da demissão de Sérgio Moro, do seu comportamento na batalha contra o
coronavírus e da aliança com o malsinado Centrão.
O mais bizarro: ao anunciar a revogação do polêmico decreto, Bolsonaro afirmou que ele era muito bom, sim senhor, e que poderá mais tarde ser reeditado. É mais fácil concluir que ele simplesmente não sabe direito por que assina certas coisas. Só sabe por que recua depois – mas isso não conta. Recua com medo de não se reeleger. É só o que lhe importa e orienta.
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