quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Bernardo Mello Franco - A penitência do bispo Crivella

- O Globo

Os últimos dois prefeitos do Rio se reelegeram com um pé nas costas. Em 2004, Cesar Maia liquidou a fatura no primeiro turno, com pouco mais de 50,1% dos votos válidos. Em 2012, Eduardo Paes teve uma vitória ainda mais tranquila, com 64,6%.

O cenário não deve se repetir em 2020. Apesar de controlar a máquina da prefeitura, Marcelo Crivella corre o risco de ficar fora do segundo turno. Paes lidera com folga, e o bispo disputa a outra vaga com Martha Rocha e Benedita da Silva.

De acordo com o Ibope, o prefeito entrou na semana final da campanha com 15% das intenções de voto. Em 2016, ele registrava 35% no mesmo período.

O encolhimento levou Crivella a mudar radicalmente de estratégia. Depois de anos tentando desvincular sua imagem da Igreja Universal, ele agora escancara a mistura de fé e política. “Aleluia! Aleluia! Aleluia porque a luta continua!”, canta, em hino gospel transformado em jingle eleitoral.

Ontem o prefeito divulgou vídeos em que recebe o apoio de dois líderes evangélicos: o missionário R. R. Soares, seu tio e líder da Igreja Internacional da Graça, e o apóstolo Ezequiel Teixeira, da Igreja Cara de Leão. Seu outro tio famoso, o bispo Edir Macedo, ainda não apareceu formalmente na campanha. Nem precisa. É ele quem dá as cartas no Republicanos (antigo PRB), partido que abriga o sobrinho desde 2005.

Além de apelar aos fiéis, Crivella tenta pegar carona na popularidade de Jair Bolsonaro. Ex-ministro de Dilma Rousseff, ele agora se apresenta como bolsonarista desde criancinha. O capitão aparece tanto na propaganda que um eleitor mais distraído pode pensar que o candidato é ele, e não o bispo.

As pesquisas explicam o mau desempenho do prefeito. Segundo o Ibope, 66% dos cariocas consideram sua gestão ruim ou péssima. Ele também amarga a maior rejeição: 58% dizem não votar nele de jeito nenhum.

Bolsonaro não disfarça o constrangimento a cada vez que precisa citar o nome do novo aliado. Na live de ontem, ele reservou apenas 20 segundos para a campanha de Crivella. O mesmo tempo que dedicou a um candidato a vereador em Queimados.

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