O
Brasil é a maior potência ambiental e pode se beneficiar das transformações do
setor
A
aprovação do novo marco do saneamento pelo Congresso Nacional, em julho deste
ano, proporcionou, como previ naquela ocasião, a discussão e aprovação de uma
pauta de retomada do crescimento pós-pandemia, voltada para a melhoria da
produtividade. Publiquei um conjunto de artigos sobre investimentos em
infraestrutura: um novo marco regulatório para as ferrovias e no setor de
energia, com a aprovação urgente de mudanças na lei do petróleo, para
possibilitar a realização de leilões em 2021, e nas leis do gás natural e do
setor elétrico.
A
cada ano que passa o mundo valoriza mais o que é feito a partir das energias
renováveis. A vitória de Joe Biden reforçará essa agenda. O presidente eleito
dos Estados Unidos deixou bem claro que dará uma guinada na política energética
americana, retornando ao Acordo de Paris. Sua presidência deve lançar as bases
para a descarbonização mais profunda e radical da História do país. O novo
presidente promete investir US$ 2 trilhões em apoio às energias renováveis,
para tornar os Estados Unidos totalmente independente do carvão e do petróleo
até 2035. Existe a intenção de tornar toda a nação neutra em carbono até 2050.
O
que isso tem que ver com o Brasil? Quais são as oportunidades que se podem
abrir para o nosso desenvolvimento econômico e social? Já pensou? Um selo
brasileiro de produto à base de energia renovável? Seria possível e altamente
benéfico para o planeta!
O
Brasil é a maior potência ambiental do mundo e pode se beneficiar fortemente
das transformações do setor de energia global, com participação crescente das
renováveis, da geração solar e eólica e também da inovação no armazenamento de
energia. As baterias vão criar novas possibilidades, e tudo leva a uma expansão
cada vez mais acelerada das renováveis. Em futuro não muito distante poderemos
transformar-nos em potência energética se nos engajarmos nessa nova agenda.
Cabe
lembrar que o consumo eficiente também pode ser o caminho mais fácil para
atender às demandas futuras. A tecnologia hoje permite que redes inteligentes
de energia conectem todos os seus consumidores, com uma riqueza de detalhes e
dados que favorecem um sistema complexo e integrado, como o que já existe no
Brasil.
Um
exemplo bem cotidiano, que já é realidade em outros países, são os
eletrodomésticos – como a máquina de lavar roupa – que esperam o momento de
preço baixo da energia para funcionar e são automaticamente acionados. Em breve
essa realidade passará a fazer parte dos lares brasileiros. Num simples ato de
lavar roupas, o consumidor detém um poder de escolha que é bom para ele mesmo,
para o sistema elétrico e para o meio ambiente.
É
indispensável integrar as energias. Não esqueçamos que, no Brasil, temos uma
frota de veículos movida a etanol, em última instância um derivado da “energia
solar”. Em breve já poderemos sonhar com uma cena em que os consumidores geram
energia com seus carros a etanol, como células combustíveis injetando energia
no sistema. Ou mesmo carregando seus carros com energia de painéis solares.
Essa energia também pode ser armazenada em baterias e utilizada quando
necessário.
Também
chegou a hora da diversidade, da integração, da competição e de dar poder cada
vez maior aos consumidores. E, ademais, reconhecer que as soluções baseadas
exclusivamente na intervenção dos governos e com dinheiro público se esgotaram.
Esse gigantesco potencial de integração, pela via do mercado, vai permitir ao
Brasil uma relação proveitosa com nossos vizinhos latino-americanos. Em
conjunto, temos energia barata, matérias-primas, mão de obra e mercado para suportar
um projeto que nos devolva o protagonismo na economia global.
Para
que todo esse futuro se torne realidade precisamos modernizar nosso setor de
energia. O caminho certo para criar um ambiente que atraia o capital privado e
promova a concorrência passa pela nova lei do gás, pela atualização de regras
do setor elétrico, por específicas para renováveis e biocombustíveis baseadas
na inovação e na competitividade, e não em subsídios eternizados. Assim, vamos
reforçar as estruturas de governo e das agências reguladoras com as vacinas que
nos protejam dos riscos da captura do sistema por movimentos oportunistas.
No
momento em que pensamos na recuperação do Brasil pós-pandemia, devemos pensar
num processo estruturado de desenvolvimento com base na competitividade. A
energia é uma chave geral desse projeto.
Só
o debate democrático permitirá equilibrar os interesses diversos e fazer as
escolhas certas. E o eixo desse debate está colocado nos projetos em apreciação
no Congresso. Precisamos todos participar desse debate.
A
agenda da energia reflete, no campo econômico, as demandas da sociedade
brasileira. Ela envolve diversidade, maior poder para as pessoas, maior
concorrência e transparência – e contribui para fazer a riqueza do País chegar
a todos os brasileiros. Tão logo terminem as eleições municipais deve ser
retomada com prioridade, fazendo da energia o combustível e o motor do nosso
desenvolvimento.
*Senador
(PSDB-SP)
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