Bolsonaro é o pior inimigo de si mesmo quando se trata de
ridicularizar sua autoridade
Era
óbvio e esperado que, ao perder a aposta feita em Donald
Trump, o presidente brasileiro Jair
Bolsonaro fosse incluído na coluna “perdedores” em
todas as listas de governantes que se deram mal com a vitória de Joe
Biden. Não são poucos, e incluem países tão diferentes
entre si como Israel, Arábia Saudita, Turquia, Reino Unido e Hungria. Mas o que
a língua solta do presidente está produzindo é uma rápida perda da própria
autoridade
A
popularidade que resulta de auxílios emergenciais é tão efêmera quanto a
duração desses auxílios, e até aqui o governo não conseguiu dizer como vai incluir
uma renda básica no Orçamento do ano que vem (que, aliás, não foi votado). Sim,
é popularidade que pode ser reconquistada, ainda que a custo literalmente alto
para os cofres públicos – e enquanto a economia não sofrer desarranjos maiores,
fantasma que o próprio ministro Paulo
Guedes anda alimentando.
Com autoridade é diferente. Um presidente não precisa necessariamente ter grande autoridade para ser popular, mas precisa ser levado a sério para governar. A autoridade de Bolsonaro está sendo diluída por ele mesmo ao cair no ridículo, um ácido capaz de corroer qualquer pedestal. Personagens que dizem coisas “folclóricas”, toscas, ofensivas, desvinculadas da realidade, abusivas ou mentirosas avançam até o ponto em que afundam nas próprias palavras.
A
briga de Bolsonaro com a vacina “chinesa” conseguiu gerar desconfiança em
qualquer vacina, justamente quando os especialistas alertam para o fato de que
o Brasil provavelmente enfrentará uma segunda onda de covid-19, tal como
acontece no momento na Europa e nos Estados Unidos. E a politização afeta a
confiança em duas instituições essenciais para saúde pública: as que produzem a
vacina (como o Instituto Butantan) e as que regulam sua aplicação (como a
Anvisa). O resultado geral é péssimo para todos os governantes e causou séria
apreensão nos governadores.
Da
mesma maneira, pode-se argumentar indefinidamente sobre quem atrasa mais a
aprovação das reformas que lidem com a questão fiscal, se é o Congresso ou se é
a equipe do Ministério da Economia.
Mas, no sistema político brasileiro, é o presidente quem tem o poder de ditar a
agenda política, e a pergunta cada vez mais pesada no ar é se alguém sabe o que
Bolsonaro pretende além de manter popularidade a um custo que a passagem do
tempo só torna mais caro do ponto de vista fiscal.
O
grau de isolamento internacional do Brasil por conta das apostas de Bolsonaro é
inédito, ainda que lhe reste o consolo de estar na companhia de países como
China, Rússia e México, que até aqui se recusam a parabenizar Joe Biden pela
vitória nas eleições presidenciais. Ocorre que esses três países tem
contenciosos importantíssimos com os Estados Unidos,
enquanto Bolsonaro está aparentemente ávido para encontrar um: a Amazônia.
Biden
mencionou US$ 20 bilhões de possível ajuda, o agronegócio tecnológico e nossa
matriz energética têm tudo para ganhar num impulso rumo à economia “verde”, mas
o presidente prefere falar de “pólvora” quando
esgotar a diplomacia em relação à pressão americana em questões ambientais. No
caso brasileiro, nossa diplomacia esgotou-se ao exercer a ridícula opção
preferencial de se subjugar a Donald Trump. Os que realmente possuem “pólvora”,
como China e Rússia, não ficam falando disso.
De qualquer forma, faltou Bolsonaro esclarecer como pretende usar eventualmente pólvora para enfrentar os malandros de olho nas nossas riquezas, se ele considera que preside um país de maricas.
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