Um
bom começo é reconhecer a fragilidade da democracia
Menos
de 50 mil votos em três estados (Arizona, Geórgia e Wisconsin). Essa foi a real
diferença que elegeu Joe Biden presidente dos Estados Unidos, não os mais de
cinco milhões de votos de vantagem no resto do país.
Para
a maioria dos analistas, essa vitória só foi possível porque Biden é de centro,
capaz de atrair eleitores de todas as correntes. Só a coalizão foi capaz de
vencer o radicalismo, e por tão pouco. É urgente traduzir essa lição para o
ambiente brasileiro, se pretendemos, como nação, voltar a progredir, deixando
para trás a ignorância e o ódio.
Um
bom começo é reconhecer a fragilidade da democracia e trabalhar imediatamente
por uma coalizão em torno do centro, que possa vencer as eleições de 2022.
Depois
há que negociar as medidas consensuais nos setores mais urgentes — educação,
saúde, segurança, saneamento. Há muita convergência nesses campos, e em outros
praticamente só há consenso — meio ambiente, cultura, política externa,
liberdades, minorias. Os debates nas trincheiras da divergência ideológica
devem ser adiados, pelo bem comum.
Para
a conversa evoluir, será também preciso definir, de saída, o modelo para a
escolha do futuro candidato a presidente — não necessariamente o nome. Uma
ideia seria exigir reputação e experiência, e permitir apenas um mandato de
quatro anos, a ser cumprido até o fim. O movimento poderia incluir, ainda, a
volta ao regime original da Constituição de 1988, de cinco anos de mandato sem
reeleição, a partir de 2026.
Só
com ousadia e espírito público será viável uma concertação de centro. O momento
é de grave crise institucional, e a polarização só tende a aumentar, em
benefício de quem a promove. Quatro anos de pacificação política, gestão
profissional, retomada de fôlego e preparação para o futuro são essenciais
antes de uma nova disputa eleitoral dividida, sob pena de um radical
prevalecer. Foram menos de 50 mil votos que livraram a maior democracia do
mundo desse risco. Não temos tempo a perder.
*Marcelo
Trindade é advogado e professor da PUC-Rio
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