segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Ricardo Noblat - A orfandade dos que ainda acreditavam na força de Bolsonaro

- Blog do Noblat | Veja

Por mais que ele negue, como negou a pandemia, perdeu

São Paulo, em 2022, estará para Jair Bolsonaro como a Filadélfia esteve há pouco para Trump? Há dois anos Bolsonaro venceu em São Paulo, como há quatro Trump havia vencido na Filadélfia. São Paulo, na eleição de ontem, deu as costas a Bolsonaro e deixou os bolsonaristas órfãos de um candidato a prefeito.

Farão o quê quando tiverem de comparecer outra vez às urnas no próximo dia 29? Votar em Guilherme Boulos (PSOL), um candidato de esquerda que mimetiza Lula, nem pensar. Até hoje ainda fazem questão de lembrar que o desequilibrado mental que esfaqueou Bolsonaro em Juiz de Fora era filiado ao PSOL.

Votar em Bruno Covas (PSDB), mas como? O partido de Covas faz oposição a Bolsonaro. O governador João Doria foi escolhido por Bolsonaro como seu inimigo número um. Doria fez questão de dizer que Bolsonaro foi o grande derrotado no primeiro turno da eleição na capital paulista. Covas já avisou que quer distância dele.

Na eleição da pandemia, cresceu por toda parte a parcela do eleitorado que preferiu abster-se.  Com 99,89% das urnas apuradas, o país registrou 23,14% de abstenções, o maior índice para eleições municipais dos últimos 20 anos. No Brasil, o voto é obrigatório. Talvez no futuro próximo se torne facultativo.

A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) revelou a perplexidade dos bolsonaristas de raiz ao escrever no Twitter: “O que houve com os conservadores? Erramos, nos pulverizamos ou sofremos uma fraude monumental?”. A hipótese de fraude é para relativizar a derrota. Os erros e o racha da direita aconteceram.

Era uma vez um presidente que quis mandar sozinho no partido pelo qual foi eleito. Como não conseguiu abandonou-o, como antes abandonara outros nove partidos. Lançou-se à aventura de construir um para chamar de seu, mas fracassou. Então imaginou que mesmo assim os eleitores votariam em candidatos que ele indicasse.

Não podia dar certo, como não deu.  Perdeu na Filadélfia – ou melhor: em São Paulo. Perdeu no berço onde se criou – o Rio, onde Eduardo Paes (DEM) dará um passeio em Marcelo Crivella no segundo turno. Dos 45 candidatos a vereador que apoiou em diversas cidades, pelo menos 33 não se elegeram.

Bolsonaro apoiou também 13 candidatos a prefeito – e apenas dois venceram – Mão Santa (DEM), em Parnaíba, no Piauí, e Gustavo Nunes (PSL), em Ipatinga (MG). Na eleição suplementar para o Senado em Mato Grosso, sua candidata, Coronel Fernanda (Patriota), perdeu. Como justificar tão pífio desempenho?

Bem, segundo Bolsonaro afirmou tarde da noite, a ajuda dele “a alguns candidatos a prefeito resumiu-se a 4 lives num total de 3 horas”. Se foi capaz de negar uma pandemia e tantas outras coisas, por que não negaria a derrota no seu primeiro grande teste político desde que assumiu a presidência da República?

O deputado Rodrigo Maia (DEM), presidente da Câmara, disse que estas eleições servirão para devolver Bolsonaro ao seu verdadeiro tamanho, muito menor do que aparenta ter. Pode ser que sim. Pode ser que não. Vai depender das lições que Bolsonaro extraia do episódio. O tempo ainda joga a seu favor.

Centrão espera tirar vantagem de um presidente enfraquecido

Reforma ministerial à vista

O presidente Jair Bolsonaro não deve temer que o Centrão afaste-se dele. Isso não acontecerá. Quanto mais fraco ele estiver, mais o Centrão ficará ao seu lado pelo menos até às vésperas das eleições presidenciais de 2020. O Centrão quer é entrar mais no governo, jamais sair. A não ser para aderir a um novo governo.

Mas para que fique e sustente Bolsonaro em votações no Congresso, o Centrão cobrará mais cargos, mais vantagens e mais favores, confessáveis ou não. Bolsonaro será pressionado a fazer a reforma ministerial que tem administrado a conta-gotas. E a entregar cabeças que gostaria de preservar.

Em fevereiro próximo serão escolhidos os presidentes da Câmara e do Senado. O DEM e o MDB saíram fortalecidos das eleições de ontem, e os dois, e mais o PSDB de João Doria deverão se aliar de olho em 2022. Bolsonaro não terá vida fácil no Congresso. O mais bobo dos parlamentares sabe tirar a meia sem descalçar o sapato.

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