O
que fica evidente é que há espaço para projetos alternativos à polarização
Bolsonaro-PT, porque o eleitor está cansado do primeiro e sem saudade do
segundo
Existe
a máxima segundo a qual eleições municipais levam em conta apenas fatores
diretamente ligados aos municípios. É verdade. Mas também é impossível,
sobretudo nos grandes centros urbanos, dissociar esse voto de algumas balizas
nacionais.
A
primeira delas neste 2020 é a pandemia. Ela não só mudou a maneira como se fez
campanha como moldou a disposição do eleitor de encarar os candidatos de forma
mais racional e desapaixonada. Os gestores que demonstraram responsabilidade no
trato da pandemia foram reconhecidos pelo eleitor.
A segunda grande conclusão possível é que houve um resgate da política do pântano no qual ela foi jogada depois de eventos traumáticos como Lava Jato, impeachment de Dilma Rousseff, prisão de Lula, desmoralização de Aécio Neves e denúncias em série contra Michel Temer no curso de sua curta Presidência.
Esse
conjunto surreal de eventos, em menos de quatro anos, permitiu que um outsider
como Jair
Bolsonaro virasse um Cacareco com sucesso eleitoral.
A
pandemia, a maneira irresponsável com que Bolsonaro se comportou ao longo do
ano e a rápida debacle de outras figuras histriônicas eleitas na sua aba
levaram a que agora, apenas dois anos depois, a “nova” política fosse devolvida
às redes sociais.
A
terceira conclusão é o surgimento de uma nova esquerda não petista com
musculatura em todo o País. PSOL, PDT, PSB e até o PC do B, com histórico de
ser um satélite petista, vão avançando em várias capitais, ao passo que o PT
tem a cabeça de chapa em apenas duas disputas de segundo turno – sem ser
favorito em nenhuma delas.
O
partido segue negando as evidências: o fato de que não fez nenhum gesto sincero
e efetivo de reconhecimento de que promoveu corrupção sistêmica no governo, ao
mesmo tempo em que destruiu a economia.
Por fim, a eleição mostra um espaço de reconstituição do centro, também ele dizimado em 2018. A abrangência desse centro, suas delimitações à esquerda e à direita e quem será aceito na festa do céu são questões postas desde já. O que fica evidente é que há espaço para projetos alternativos à polarização Bolsonaro-PT, porque o eleitor está cansado do primeiro e sem saudade do segundo.
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