Será
um alívio acordar no dia 21 de janeiro sem Donald Trump na Presidência dos
Estados Unidos. Suas mentiras, seu discurso do ódio, seus delírios e seu
negacionismo deixarão a Casa Branca. O futuro ex-presidente, claro, não
desaparecerá. Ele desfruta de uma enorme base fanática que o trata como Deus.
Mas seu poder de fato, de comandar a maior potência da história da Humanidade,
se pulverizará. Suas postagens no Twitter serão mais gritos conspiratórios de
um desequilibrado. Deixarão de ter peso de anúncios políticos como a demissão
de integrantes de seu Gabinete.
Sem Trump e com Joe Biden na Presidência, a relação dos EUA com o restante do planeta se alterará drasticamente. Tende a melhorar bastante com a União Europeia e o Canadá. Pode seguir boa com o Reino Unido. Biden voltará a trabalhar com a aliança ocidental e retomará multilateralismo. A prioridade será tentar superar a pandemia neste ano com a vacinação, com a busca de uma normalização das nossas vidas e a recuperação da economia. Ao mesmo tempo, a questão climática ganhará força.
O
Brasil está mal posicionado nos dois casos. Nossa vacinação nem sequer começou.
Ficaremos para trás das nações mais desenvolvidas. Na questão climática, se
Jair Bolsonaro não mudar seu comportamento e os rumos da política externa,
corremos o risco de nos tornarmos párias. A extrema direita internacional se
enfraqueceu. O sonho de uma aliança “soberanista” acabou, ao menos por
enquanto. E dificilmente voltará a ter um líder tão forte quanto Trump. O
presidente dos EUA será Biden, que não simpatiza com o presidente brasileiro.
No
Oriente Médio, a dúvida será se Biden voltará ao acordo nuclear firmado com o
Irã e outras potências. O futuro presidente tem a intenção de voltar, mas há
obstáculos. O mais difícil pode ser a aproximação da eleição iraniana neste
primeiro semestre. Há a possibilidade de um integrante da linha-dura ser
eleito. Esta corrente do regime é mais favorável a avançar com o programa
atômico.
Outra
eleição para se prestar atenção é a de Israel. Os principais rivais de
Netanyahu são também de direita e contrários ao acordo com o Irã. Ao mesmo
tempo, o processo de estabelecimento de relações com as nações árabes é popular
e deve avançar. Com os palestinos, no máximo, haverá reabertura simbólica de
diálogo.
Dez
anos após a Primavera Árabe, haverá pressão americana por cessar-fogo nas
guerras da Líbia e do Iêmen. Na Síria, Bashar al-Assad venceu militarmente, mas
governa uma nação destruída. O Líbano tentará se reerguer do colapso econômico
e a explosão do porto. A Arábia Saudita seguirá comandada por um ditador
extremista. O Oriente Médio, porém, perdeu importância geopolítica. Os olhos
estarão na China e na rivalidade com os EUA. Recomendo acompanhar os textos
do nosso
colunista em Pequim, Marcelo Ninio. Este brilhante repórter cobriu a
Primavera Árabe. Hoje, sabe que os acontecimentos na capital chinesa são muito
mais importantes do que os do Cairo.
Do lado dos EUA, onde vivo, creio que Biden deixará de lado o tom sinofóbico de Trump. Mas seguirá condenando a ditadura chinesa nos direitos humanos e na falta de transparência. Ao mesmo tempo, a China não é o Irã. Os americanos têm menos força para pressionar Pequim a concessões. É uma potência militar e econômica, além de principal parceiro comercial americano. Ao menos, porém, haverá uma sensação maior de normalidade. Em três semanas, poderemos ignorar as mentiras compulsivas do antidemocrático Trump.
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