As
questões básicas não resolvidas do País permanecem as mesmas
A
década que começou com Dilma e
vai terminando com Bolsonaro tem
uma extraordinária constância. Nossas mazelas continuam praticamente as mesmas.
Apenas mais escancaradas por uma pandemia que expôs (e também agravou)
problemas que já existiam. Nesse sentido, não se pode falar de uma década que
começa e termina com sinais trocados. A incompetência governamental e nossa
complacência em sua essência seguem as mesmas.
Sim,
Dilma foi a vítima da tortura praticada por um regime de exceção, que Bolsonaro teima em exaltar. Por mais abjetas e fracassadas as
ideias que ela defendia, não há nada que justifique tortura especialmente por
órgãos de Estado, como aconteceu na ditadura militar brasileira. É um aspecto
que o capitão Bolsonaro ignora e que exércitos profissionais de democracias
abertas, como na França (na Argélia), Estados Unidos (por último, no Iraque) e
Israel (na Intifada de 1987) reconhecem como destruidor da moral da força
armada e se empenham em condenar.
A sociedade brasileira segue exibindo a mesma tolerância em relação a pragas nacionais há tempos estabelecidas: injustiça social, miséria disseminada, violência endêmica, corrupção e incompetência governamental. São características com as quais se podia descrever o Brasil de 10 ou 20 anos atrás, e a onda disruptiva de 2018 não ofereceu resultados até aqui convincentes para alterar fundamentalmente esse quadro. As comparações internacionais nada proporcionam para nos orgulharmos em termos de nível de desenvolvimento humano e, especialmente, educação, que continua sendo entendida no Brasil como ferramenta e não como valor em si.
Nas
comparações mais recentes estamos capengando para proteger nossa população da
covid-19. Os que primeiro começaram a vacinar estão em todas as regiões do
mundo. Nessa lista figuram ricos e emergentes, países gigantes e pequenos,
regimes abertos, democracias liberais, monarquias absolutistas, a ditadura
comunista da China, variadas etnias, as principais denominações religiosas (entre os latino-americanos, governos de esquerda e de direita).
O
atraso brasileiro na questão da vacinação é uma vitrine expondo nossos limites
estruturais. O sistema de governo, possivelmente o pior do mundo, mantém
Executivo e Legislativo em choque constante, agravado pela insegurança jurídica
emanada de um Judiciário que não foi eleito para governar, mas está governando.
O podre sistema de representação política é fator preponderante para entender a
falta de lideranças abrangentes e enraizadas – um grande deficit em situações
de crise econômica e sanitária que se reforçam mutuamente. A força dos
regionalismos e o egoísmo de suas respectivas elites – não só as geográficas,
mas as de diversos segmentos sociais e econômicos nos fazem assistir à
concorrência dos entes da federação.
Há
aspectos peculiares na incompetência demonstrada pelo atual governo no trato da
pandemia, mas incompetência em várias questões, agudas ou não, causadas pela
“sabedoria” de chefes de Executivo (só lembrar o que Dilma fez com o setor
elétrico, por exemplo) tem sido recorrentes. No plano mais abrangente, para um
País que cultiva a imagem de ser dono de um futuro brilhante, estamos sendo
extraordinariamente incompetentes em chegar lá. Nossa distância nesses dez anos
em relação às economias mais avançadas aumentou – e estamos há mais tempo do
que isso estagnados em matéria de produtividade e competitividade
internacionais.
É confortável apontar o dedo acusador para este ou aquele governo do começo ou do fim da década. O fato é que nós os colocamos lá.
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