Governo teve pressa com cloroquina, mas nega ao país empenho na vacinação
Em
março, Jair Bolsonaro se reuniu com o ministro da Defesa e ordenou que o
Exército ampliasse imediatamente sua produção de cloroquina. A equipe técnica
do governo dizia que o remédio não funcionava contra a Covid-19, mas a ordem
foi cumprida em tempo recorde: em três semanas, os
militares fabricaram 2 milhões de comprimidos.
A
obediência inspirou Bolsonaro. Meses depois, ele escolheu um general para
comandar o Ministério da Saúde. Eduardo Pazuello seguiu as vontades do chefe e
moveu as engrenagens da máquina pública para distribuir um medicamento
ineficaz. Com a cloroquina, o presidente teve uma pressa que foi negada ao país
no planejamento da vacinação.
O governo assinou no início de junho a adesão do Brasil a um consórcio internacional para a fabricação de imunizantes contra o coronavírus. No mesmo mês, a equipe econômica perguntou ao Ministério da Saúde se havia previsão de importar material para vacinação. A pasta levou quase seis meses para publicar um edital para a compra de seringas.
Bolsonaro
foi mais ágil na campanha do curandeirismo. Ainda em abril, o presidente
conversou com o primeiro-ministro indiano Narendra Modi e pediu matéria-prima
para a fabricação de cloroquina. Um carregamento chegou ao Brasil em menos de
uma semana. No mês seguinte, os Estados Unidos enviaram mais 2 milhões de doses
do medicamento.
O
estoque de comprimidos está garantido, mas o país corre risco de ficar sem
seringas e agulhas para a vacinação contra a Covid-19. O pregão aberto pelo
governo para comprar 331 milhões de kits fracassou
e só deve atingir 2,4% da demanda.
Quando o TCU pediu explicações ao Exército sobre a fabricação de cloroquina a preços acima do normal, os militares disseram que o objetivo era "produzir esperança para corações aflitos". Sobre as cobranças públicas por um plano de vacinação, o ministro da Saúde fez pouco caso: "Para quê essa ansiedade, essa angústia?". Entre a angústia e a esperança, há um governo incompetente.
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