São
quatro as razões que evitaram a queda de dois dígitos do PIB brasileiro
E
o pior não aconteceu. No segundo trimestre, em plena pandemia, as projeções
para o desempenho da economia do Brasil foram terríveis. Algumas chegavam a
indicar um mergulho do Produto
Interno Bruto (PIB) de quase 10% para todo o ano.
As
novas previsões falam de uma queda de 4,4% (veja o gráfico). Essa é a última
projeção do Banco Central,
que coincide com a do mercado, como consta no Boletim Focus desta
semana.
São quatro as explicações para esse tombo menos acentuado.
A primeira delas é a de que o Tesouro despejou R$ 322 bilhões em auxílios emergenciais para a população (66 milhões de pessoas), recursos que permitiram uma sustentação da demanda de bens essenciais – especialmente alimentos, medicamentos e moradia – durante o isolamento social necessário para combater a covid-19. Foi uma demanda que permitiu que a atividade econômica não entrasse em colapso. O efeito colateral foi o avanço inesperado da inflação, que, no entanto, tende a ser limitado.
O segundo grande fator de sustentação da economia foi o excelente desempenho do agronegócio. Como mostram as últimas projeções do IBGE e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção física de grãos na safra de 2020/21 deverá ter um aumento de 3,5%, para alguma coisa em torno dos 266 milhões de toneladas. Os preços também ajudaram, seja pelo aumento da demanda interna de alimentos, como mencionado acima, seja pela forte importação da China.
A
alta do dólar em reais também trabalhou na mesma direção. O impacto desses
resultados no PIB ainda é relativamente baixo porque a agropecuária pesa apenas
5,6% na renda nacional.
O
maior estrago aconteceu no setor de serviços (mais de 70% do PIB),
especialmente nas viagens, no turismo, nos grandes eventos, no ensino, na
saúde, no ramo dos bares e restaurantes e em grande parte no comércio
varejista. Salvaram-se as vendas pela internet e os escritórios, graças aos
serviços prestados em casa, o home office.
As
avarias macroeconômicas foram enormes: investimentos adiados, obras
paralisadas, um desemprego de 14,3% da força de trabalho e de outros 5,5% no
desalento (desistiram de procurar emprego) e, mais que tudo, o alastramento do
rombo fiscal e o avanço da dívida pública. Até agora, o governo não mostrou
como vai enfrentar as exigências da lei do teto dos gastos nem como vai
reequilibrar as contas públicas em 2021. Nem mesmo o Orçamento de 2021 foi
aprovado.
As
apostas se concentram agora na recuperação da atividade econômica, que já
começou a mostrar as caras no último trimestre deste ano. O maior trunfo está
na aplicação da vacina.
Cinco
instituições internacionais já mostraram que superaram a terceira e decisiva
fase de testes. O Instituto
Butantã espera começar a vacinar ainda em janeiro e a Fiocruz tem planos
para iniciar a aplicação das doses no fim de fevereiro. É provável que, já no
primeiro semestre de 2021, boa parcela da população tenha sido atendida. Mas
não será preciso esperar até que a maior parte da população tenha sido
imunizada contra o novo coronavírus para contar com avanços na economia.
E
há, também, sinais de excelente recuperação da economia mundial, especialmente
da China e da Europa,
também fortemente influenciados pela distribuição das vacinas. São fatores que
indicam bons resultados na balança comercial do Brasil, especialmente ancorados
pelo novo recorde de produção de commodities agrícolas.
A perspectiva de que a vacina esteja próxima e o afastamento da ameaça de novas ondas da pandemia, no Brasil e no resto do mundo, podem mudar corações e mentes. E esse novo ânimo tende a ser a melhor energia para revitalizar a atividade econômica.
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