Nada
melhor do que nos enxergarmos na moldura maior do que ocorreu em outras partes
O
primeiro, da ONG americana Freedom House, intitula-se “Democracia sob lockdown
– o impacto da Covid-19 na luta global pela liberdade”. Baseia-se em
entrevistas com especialistas e membros da sociedade civil, realizadas entre
janeiro e agosto, em 105 países. A análise conclui que a pandemia exacerbou um
tremendo problema: a recessão democrática dos últimos 14 anos.
De acordo com o informe, a democracia se degradou em 80 nações, cujos governos responderam à virose com abuso de poder, silenciamento das vozes críticas, enfraquecimento ou liquidação de instituições cruciais e erosão dos sistemas de rendição de contas pelos governantes. Em nada menos de 59 desses países faltou transparência na maneira como as autoridades informaram o público sobre a Covid-19.
Pior
ainda, em 91 deles restringiu-se a liberdade de imprensa. Das 22 eleições
marcadas para este ano, sete foram adiadas e quatro tiveram suas regras
alteradas. A violência policial relacionada às medidas de restrição aumentou em
59 países. Num em cada quatro, multiplicaram-se as restrições a minorias
étnicas e religiosas. O Brasil ficou no grupo daqueles nos quais a praga não
debilitou o sistema democrático.
O
segundo dos estudos citados é o “Balanço das tendências democráticas na América
Latina e Caribe antes e durante a epidemia da Covid-19”, produzido pela
organização Idea Internacional.
Embora
a meta, o método e algumas das dimensões por ela observadas sejam diferentes,
as conclusões se assemelham às da Freedom House. A pandemia aprofundou
problemas crônicos das democracias na região. As respostas variaram muito e nem
todas agravaram as grandes limitações do sistema político.
Apesar
de tudo, graças à reação do Legislativo e do Judiciário, à força da Federação,
à autonomia
da imprensa e à resistência da sociedade organizada, a democracia
brasileira logrou barrar as investidas do populismo de direita instalado no
Planalto.
Pode
não parecer muito, dada a enormidade dos desafios que o país já enfrentava e
que a pandemia agrandou. Foi pior em muitos lugares. Poderia ter sido também
aqui.
*Maria Hermínia Tavares, professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap
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