Nas eleições de 1982, as primeiras eleições diretas para governador desde 1964, o PDS venceu em 14 estados, o PMDB em 10 estados e o PDT venceu no Rio de Janeiro com Leonel Brizola. O PT elegeu oito deputados e Lula chegou em 4º. lugar nas eleições para o Governador de São Paulo, com 10% dos votos, no seu batismo eleitoral. O tripé Montoro, Tancredo e Brizola, nos três maiores estados, foi essencial para a campanha das Diretas-já e a eleição de Tancredo Neves no Colégio eleitoral.
Nas suas primeiras duas décadas de existência, o PT caracterizou-se por posição de radicalismo sectário, contra “tudo que está aí” e a postura exclusivista se materializou na ausência na votação no colégio eleitoral, que resultou na expulsão de três deputados petistas que votaram em Tancredo; na votação contra a Constituição de 1988; na não participação no governo de união nacional de Itamar Franco, com o afastamento da ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, que se tornou ministra; na oposição cega e radical ao governo FHC, votando contra o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal, entre outras iniciativas. Isto alicerçou uma frase que ficou famosa: “entre o Brasil e o PT, o PT fica sempre com o PT”. O interesse geral da sociedade era sempre negligenciado por interesses corporativos.
A ambiguidade em relação à questão democrática também foi uma tônica. O manifesto de fundação dizia “não há socialismo sem democracia, nem democracia sem socialismo”. Mas as contradições vinham à tona na defesa de Estados ditatoriais – Cuba, Venezuela, Nicarágua, Coréia do Norte, nas ameaças de controle sobre a imprensa livre e na cogitação de decretação do “Estado de Defesa” durante o impeachment de Dilma.
Em 2002, o publicitário Duda Mendonça
emplacou a versão para ganhar a eleição do “Lulinha paz e amor”. Lula com o
passar do tempo começou a ser endeusado, transformado em mito, centralizar as
decisões, mandar no partido que se queria “sem dono”. Lula sempre cultivou uma
falsa humildade de “homem do povo” para encobrir a arrogância no poder, a falta
de humildade histórica e o culto narcísico à personalidade. Santo Agostinho já
dizia: "Prefiro os que me criticam, por que me corrigem, aos que me
elogiam, por que me corrompem". “Nunca antes neste país”,
“Fizemos mais em 4 anos que em 500 anos de história”, “Eu fui o melhor
presidente da história do país”, “A partir de agora, se me prenderem, eu viro
herói. Se me matarem, viro mártir. E se me deixarem solto, viro presidente de
novo” são algumas de suas frases. Tal cultura política gerou uma concepção
torta de alianças, tudo bem estarmos juntos desde que o candidato seja do PT.
No governo, o PT, entre acertos e erros,
ganhou para a maioria da população uma forte e inegável marca associada à
corrupção, tendo em vista o mensalão e a Lava Jato. Habilidoso, Lula tenta
passar que a recente decisão do STF o inocentou. O que sabemos, não é verdade.
Lula e o PT nunca esboçaram, nem de perto, uma autocrítica.
Também o legado desastroso do Governo Dilma e sua “Nova Matriz Econômica”, que produziu desemprego e uma das maiores recessões do país, intervencionismo nefasto em setores essenciais como o elétrico e o de petróleo e a queda da credibilidade do Brasil junto aos investidores, jamais mereceu uma reconsideração crítica.
Tendo seus direitos políticos restabelecidos para 2022, Lula será candidato. Como político experiente tenta transbordar a bolha petista com acenos retóricos a outros segmentos políticos e tenta liderar a oposição ao atual governo. O Brasil não quer ficar preso a projetos personalistas eivados de populismo, onde um líder heroico e salvador encarna o futuro. O país espera um projeto sólido para sair da terrível crise sanitária, social, econômica e política. Se o PT e Lula querem dialogar, que tal começarem por uma profunda, sincera e transparente autocrítica sobre sua trajetória, determinante para chegarmos aonde chegamos?
*Marcus
Pestana, ex-deputado federal PSDB-MG)
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