A
não aprovação da importação da vacina russa Sputnik V mostrou que a agência
brasileira mantém sua integridade e autonomia institucional, a despeito das
pressões políticas que vêm de todos os lados: da opinião pública, que exige
mais vacinas; dos governadores —muitos deles de esquerda —, que compraram
milhões de doses; de setores do bolsonarismo que querem fazer da Sputnik “a
vacina do Bolsonaro”, para se contrapor à “vacina do Doria”; além da própria
Rússia.
Em
seu parecer, a Anvisa apontou deficiências técnicas nos estudos clínicos,
entraves para inspecionar a fabricação da vacina e, o mais grave, a presença de
vírus replicante nas vacinas, o que poderia colocar em risco a saúde de quem as
toma.
A decisão da Anvisa foi amplamente respaldada pela comunidade científica brasileira. O perfil da Sputnik no Twitter alegou, porém, que a vacina já foi aprovada em 61 países. O diretor da Anvisa Alex Campos respondeu que se trata de “países sem tradição de maturidade e robustez regulatória”. A Anvisa repassou seu parecer com observações sobre os vírus replicantes à OMS, que também está analisando a aprovação da vacina.
O
atropelo no desenvolvimento da Sputnik tem sido alvo de críticas da comunidade
científica desde o ano passado. A vacina foi registrada na Rússia antes da
conclusão dos estudos clínicos da fase 1 e 2, e sua aprovação em outros países
—como a Argentina — foi feita antes da conclusão da fase 3. Um estudo publicado
na prestigiosa revista “The Lancet”, posterior ao registro, mostrou, no
entanto, a eficácia da vacina.
A
adoção da vacina na América Latina foi objeto de uma reportagem do jornal espanhol “El País”, que mostrou
como a Argentina, depois de uma aprovação atropelada, promoveu a vacina junto a
países ideologicamente alinhados, como México e Bolívia. O jornal “The New York
Times” também fez uma reportagem sobre como a Rússia tem usado a vacina como
instrumento de diplomacia, priorizando parceiros estratégicos à custa de sua
própria população. Documentário recente de Álvaro Pereira Jr. mostrou a
maneira agressiva como o governo russo restringe o acesso a informações sobre a
Sputnik V.
Críticos
da decisão da Anvisa têm alegado que a não aprovação da importação da Sputnik é
resultado de pressão dos Estados Unidos. Em documento oficial da era Trump, o Departamento de Saúde
americano relata que mandou um enviado ao Brasil para persuadir as autoridades
brasileiras a rejeitar a vacina russa. A decisão recente da Anvisa, segundo
esses críticos, seria fruto dessa pressão.
A suspeita, no entanto, não é apoiada por outros fatos. Em primeiro lugar, os argumentos da Anvisa para rejeitar a importação foram fortemente respaldados por especialistas. Além disso, se houvesse viés político nas decisões da Anvisa, ela jamais teria aprovado a CoronaVac, desenvolvida na China em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao Estado de São Paulo, governado por João Doria. Ambos, China e Doria, são adversários declarados do presidente Bolsonaro.
Um comentário:
Esse Ortelado só pode ser louco. Que sujeito desinformado.
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