O
tempo da política nem sempre coincide com a percepção e as necessidades da
sociedade. A gestão da variável tempo é estratégica no jogo da política. A
precipitação não é boa conselheira.
A leitura das pesquisas joga o foco muito mais nas intenções de voto do que no sentimento oculto na alma dos cidadãos comuns. Já assisti viradas eleitorais históricas. A opinião pública é volátil, sujeita a chuvas e trovoadas. Não só as virtudes dos candidatos contam, mas também a sorte, o destino. “Tudo que é sólido desmancha no ar”. O acaso também tem o seu papel. É só lembrar o acidente aéreo que vitimou o talentoso governador de Pernambuco Eduardo Campos, em 2014, ou a absurda tentativa de assassinar Bolsonaro, em 2018. Eleição não é concurso de provas e títulos. A democracia acerta sempre no atacado e no longo prazo, e comete visíveis injustiças no varejo e no curto prazo. É um processo coletivo de aprendizagem permanente.
As
decisões do STF que resultaram na reabilitação eleitoral de Lula, sem
inocenta-lo, desencadearam a precipitação do debate sobre as eleições
presidenciais de 2022.
A
agenda da sociedade e o interesse real dos brasileiros, neste exato momento,
poderiam ser resumidos em emprego na carteira, vacina no braço e comida no
prato.
No
entanto, o quadro político-partidário não pode ficar inerte diante de fatos
novos que ocorrem. Todo cuidado é pouco para não gerar uma rejeição absoluta do
eleitorado a partir da falsa percepção que os políticos só pensam em eleições e
não se preocupam com a pandemia, o desemprego, a fome e a miséria.
O
quadro parece clarear a cada dia. Bolsonaro será candidato à reeleição e agirá
nestes próximos quatorze meses para aguçar a polarização e manter fiel a base
social que o apoia. Lula será candidato a reeleição ou lançará novamente Haddad
pelo PT e tentará com seu carisma e experiência reverter o desgaste derivado do
mensalão, da Lava Jato e do desastroso legado de Dilma. Ciro Gomes dificilmente
recuará e tentará construir pontes com o centro democrático visando compensar
as perdas à esquerda, mas as convergências com o centro dificilmente cancelarão
divergências substantivas que existem em termos programáticos.
A
variável ainda não presente à mesa é: qual será a chapa que representará o
centro democrático? O PSDB realizará prévias em outubro com seus quatro
pré-candidatos: Arthur Virgílio, Eduardo Leite, João Dória e Tasso Jereissati.
O DEM tem dois bons nomes, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta e o presidente
do Senado, Rodrigo Pacheco. O apresentador de TV, Luciano Huck, ainda não
resolveu se entrará ou não na disputa. João Amoêdo e o NOVO estão
flexibilizando seu fundamentalismo liberal e se abrindo para o diálogo. Todos
estão conversando e procurando a melhor solução.
Fato é que a polarização dos extremos personificada pelo embate Lula versus Bolsonaro não é uma realidade definitiva e inabalável, como muitos cravam precipitadamente. Há um amplo espaço para a construção de uma 3ª. Via.
*Marcus Pestana, ex-deputado (PSDB-MG)
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